domingo, 23 de janeiro de 2011

Desempregada.


Para quem ainda não sabe, voltei a ficar desempregada.
Os textos deste blogue sempre foram escritos com muito carinho e “energia positiva”… Para que o pessoal não perdesse a motivação de ir em frente e procurar novos rumos na sua vida, tal como eu fiz.
Mas a questão é que tenho recebido mails a pedir informação disto e daquilo, e se a empresa onde trabalho :) está a recrutar pessoal.
Acho que está na altura de contar mais um episódio da minha aventura por estas terras, principalmente agora que o partido a Sra. Merkel veio dizer que a Alemanha quer recrutar pessoal especializado português (e espanhol).

De Junho a Setembro de 2010 estive a fazer formação na área da energia solar e eólica. Formação esta que paguei na íntegra do meu bolso (3.000€ para falarmos de números). Nessa formação conheci pessoal na mesma condição que eu, com formação superior, mas sem trabalho. Eu era a mais nova do grupo pois a faixa etária média devia rondar os 45 anos. Éramos uma turma bastante dinâmica e colaboradora, um ambiente que não estava à espera de vir encontrar numa acção de formação. Todos se ajudavam uns aos outros, davam dicas sobre como optimizar o projecto da equipa vizinha, e sugestões de como tornar as aulas ainda mais interessantes. As alegrias eram partilhadas bem como as frustrações. E quando falo de frustrações refiro-me ao facto de pessoas com 45 anos, com família para sustentar, que foram despedidas e se viram obrigadas a começar tudo de novo. É, portanto, com este pessoal que nós, portugueses, temos de concorrer! Engenheiros civis, engenheiros electrotécnicos, arquitectos, técnicos de várias áreas, etc. (para aqueles mais distraídos que dizem lerem o meu blogue mas que insistem em escrever-me a perguntar este tipo de informação).

O fim da nossa formação em energia eólica coincidiu com a realização da maior feira de eólicas do mundo. Decidimos organizar-nos e deslocar-nos a Husum. É verdade, esta feira realiza-se na Alemanha mas não numa cidade como Berlim, ou Hamburgo, ou até Estugarda. Realiza-se numa cidadezinha, a 140 km de Hamburgo, para norte, chamada Husum.
Tudo o que se passa na área da energia eólica a nível mundial, se passa ali, durante uma semana, onde empresas como a Repower, Nordex, Vestas, Suzlon, Wind Power, …, se fazem representar.
A deslocação a essa feira tinha um objectivo para todos nós: apresentarmo-nos às empresas como pessoal especializado e disponível para trabalhar para qualquer uma delas. Íamos atrás de um sonho, o de conseguir trabalho numa grande empresa na área das eólicas.

Eu fui das únicas que consegui realizar o sonho. Numa das minhas investidas, contactei com uma das empresas e passado uma semana, tal como me tinham prometido, telefonaram-me para marcar uma entrevista.

A entrevista correu muito bem e ofereceram-me a possibilidade de começar com um estágio, remunerado, de dois meses. Aceitei, claro! A empresa dedicava-se apenas a dimensionar as torres eólicas e nada tinha a ver com produção de energia (assunto abordado na tal formação que tinha feito). Dimensionamento de estruturas era algo em que não tinha qualquer experiência profissional e o meu último contacto com tensões, resistência dos materiais, momentos de inércia, tensões de rotura, etc., tinha sido durante o meu curso na universidade. Há 6 anos, portanto.

Um mês e uma semana depois do início do meu estágio já tinha terminado a tarefa para a qual tinha sido contratada :) Os elogios vieram e a intenção de me ter na equipa para 2011, também. As minhas bases em matemática e física tinha-os impressionado, bem como a minha capacidade de procurar resolver os problemas com base na teoria, sozinha (a nossa maior vantagem, como portugueses: somos autodidactas. Obrigada, F.C.T.U.C.!). Várias eram as vezes que se viravam para mim e perguntavam “Tens dúvidas, Ana?” e eu respondia “Não. Pelo menos, por enquanto…”

Na véspera de ir para Portugal, passar o Natal em família, dia em que pensava que ia conversar sobre o meu contrato para 2011, recebo a notícia que afinal a empresa não teria capacidade financeira para me contratar porque iriam entrar em processo de insolvência.
Caiu-me tudo por terra…

Chegada a Portugal, sempre que me perguntavam como ia o trabalho, respondia sempre “muito bem!”. Só passado 3 dias tive coragem de dizer aos meus pais, que mais uma vez, estava desempregada. Porque na verdade fica-se sem forças para se explicar e contar a mesma história, vezes sem conta… E quando se emigra, e se submete a ficar longe da família e amigos, é para se ir para uma situação melhor.

Pela terceira vez tenho de recomeçar o processo de encontrar emprego na Alemanha. Reescrever o CV, cartas de apresentação, estudar o mercado de oferta de emprego.

Portanto, se calhar é a minha vez de perguntar aos meus leitores, como tantas vezes me perguntaram a mim via e-mail, “não me arranjam um trabalhito?”

Agora que saiu a notícia que a Alemanha quer recrutar pessoal especializado português, já estou a imaginar a minha caixa de correio cheia de “pedidos de informação”.
Pessoal: a notícia não é novidade! :) E não diz nada de novo: países como a Alemanha sempre procuraram pessoal especializado, sejam eles alemães, tugas ou até chineses. A questão é que o pessoal alemão é caro e é pouco; aos chineses ninguém os quer ver nem pintados e são precisos na China para concorrerem com países como a Alemanha. Sobra o pessoal dos países do sul da Europa, que tem boa formação (que não fica atrás de nenhuma outra de um país do norte da Europa!) e que está à rasca, sem emprego, e por isso é pessoal barato. Mas qual é a novidade??? Foi preciso verem a notícia escrita no jornal para acordarem para a vida?

Agora, o caminho até ao mercado de trabalho alemão, ou até qualquer outro, faz-se “puxando pela cabeça”. O pessoal aqui é exigente na recepção das candidaturas. Não é como em Portugal que existe sempre alguém que conhece alguém, que pode confirmar com um simples telefonema os dados que escrevem no vosso CV (quando não é por cunha…). Aqui a cunha, chamada Vitamina B, também existe! Mas essa é para os alemães :) Os restantes, como nós, temos de mostrar no papel o que valemos. E sobre essa matéria, neste blogue já existe muita informação. Por isso, façam o trabalho de casa, e por favor, não me entupam a caixa de correio electrónico com pedidos de informação e, principalmente, de trabalho!! :D

P.S.: Estou mesmo a precisar de carregar as baterias… Há por aí alguém com “energia positiva a mais” que me possa transferir um bocadinho? Agradecida.