sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Anita vai a Husum

Foi há um ano. O fato e a camisa encontravam-se lavados e pendurados na cadeira do quarto. Os sapatos pretos, novamente limpos, ao lado da porta do quarto. A mala (de cortiça!) com tudo o que poderia vir a precisar: bilhete de comboio, bilhete de entrada, CV em formatos A4 e flyer, listas das empresas a contactar, lista das pessoas das empresas a quem me dirigir.
Aquele nervoso miudinho na barriga: "EU, na maior feira mundial de energia eólica, apresentar-me a empresas, para conseguir um trabalho...?"
Aquela insegurança: "EU, uma directora de (pequenas) obras, com apenas dois anos e meio de experiência, numa feira alemã, para arranjar trabalho?"
Aquele medo: "EU, que nem bem alemão falo... Como é que eu me vou apresentar? Ai mãe...!"

Mas principalmente, aquela certeza: tem tudo para dar errado, mas também tem tudo para dar certo! Eu vou, e vou com TUDO!


Um ano depois, repito a viagem. Mas ainda faltam quatro dias. O fato e a camisa continuam lavados e pendurados, mas desta vez no guarda-fatos. Os sapatos ainda se encontram na caixa de cartão (espero que estejam limpos!). A mala, essa, não falha: acompanha-me em todas as minhas "viagens de negócios", e desta vez ainda está vazia. O bilhete de entrada encontra-se algures na carteira, entre as chaves de casa, porta-moedas, telemóveis, etc... As listas? Dei hoje uma olhadela no site, as mesmas empresas de sempre: Repower, Gamesa, Vestas, Nordex, e por aí fora!

Um ano passou e desta vez irei à mesma feira, mas não há procura de trabalho. Vou, simplesmente, a trabalho. Não terei de colocar máscara nenhuma nem preparar-me para vender o que quer que seja. Vou apenas. Sem pressões, sem medos, sem frios na barriga. Vou com a segurança de que foi nesta mesma feira que, há um ano, consegui. Não foi fácil. Não foi rápido. Porém, olhando para trás vejo que tudo aconteceu no timing certo :)

Ainda no escritório, depois de navegar no site da feira, desligo o computador. Pego no casaco e na carteira. Desligo as luzes e fecho a porta. Caminho pelos corredores da empresa. Lembro-me como se fosse ontem, o primeiro dia que vi aquelas paredes brancas com fotografias de torres eólicas. Desço os seis andares pelas escadas e aprecio a paisagem. O Parque da cidade começa a dar sinais da chegada do Inverno. Não importa. Consegui. Consegui o que me propus a fazer quando me mudei para a Alemanha. Por agora só tenho que agradecer pela vida que levo. Obrigada!