domingo, 26 de fevereiro de 2012

O que é que se responde a uma alemã que nos pergunta:

"Mas que raio estás tu a fazer na Alemanha, se no teu país existe uma melhor qualidade de vida?? Sim, porque eu estive em Portugal e foi maravilhoso: fruta e peixe frescos e saborosos, todos os dias! Quando chegámos à Alemanha tomámos a decisão de continuar a comer como comemos em Portugal: bem, saudável. Fomos ao supermercado e foi uma desilusão: a fruta não sabe a nada e é cara; o peixe é horrível e também caríssimo! Como é que tu sobrevives aqui??"

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Grito da Gaivota I

Chegada a casa, depois do nosso lanche, S., corri para o Lendas e Legendas em busca de um texto escrito por mim, em Junho de 2009. O tempo passa e é verdade que nos esquecemos de momentos menos bons da nossa vida. Mas penso que faz parte do ser humano, esquecer, como mecanismo de defesa...

E para isso servem os blogues. Para deixar guardado, algures, os momentos que não podemos esquecer. Pelo menos o meu, para mim :)


E o texto é para ti, S.:

"Foi neste livro que encontrei por escrito sensações e sentimentos em relação à língua alemã. Quer dizer, não é propriamente em relação ao alemão, em si... Agora o entendo. É em relação a qualquer língua que não se saiba, não se domine.

Emmanuelle escreve:

"As pessoas dizem-me: "Fala, fala, nós compreendemos", mas de momento sei que não é assim, a não ser no seio da família."

"À saída sentimos uma exigente necessidade de recuperar. A necessidade de estarmos juntos, de falar entre nós. De recuperar não só tempo perdido durante o dia com os que ouvem, mas a nossa língua, a nossa identidade."

"Não precisar de me estafar na tentativa de falar oralmente. Reencontrar as mãos, o à-vontade, os gestos que voam, que falam sem esforço, sem constrangimento. Os movimentos do corpo, a expressão dos olhos, que falam. De súbito desaparecem as frustrações."

É isto mesmo! A comunicação é o veículo para a integração de alguém em qualquer ambiente. Tanta vez senti isto e nunca o soube "escrever". Diziam-me: "o teu problema é que em casa falas português..."; "ah... o teu problema é que não te esforças...".
Por tantas vezes queria simplesmente engoli-los, os que me diziam coisas destas! O problema... Para quem desde o primeiro dia que pôs os pés nesta terra ainda não parou de ter aulas de alemão, para quem deixa de falar em inglês com quem também o fala para poder treinar o alemão, para quem acha a língua alemã desagradável ao ouvido, para quem foi obrigado a aprender a língua para poder abrir algumas portas na sua vida, para quem escolheu engenharia porque não tinha jeito para línguas, é... Simplesmente sentir que é uma barreira, o não conseguir-se comunicar para voltar a estabelecer laços afectivos, de que tanto precisa, para viver como ser humano.
Mas isto, essa fase da minha vida, agora já passou! ;)

Emmanuelle é surda. E ao ler o seu livro percebi o significado de se ser surdo. Emmanuelle explica: "O termo "surda-muda" continua a espantar-me. Mudo significa que não se tem o dom da palavra. As pessoas vêem-me como alguém que não utiliza a palavra. É absurdo! Eu uso. Tanto com as mãos como com a boca. Faço gestos e falo francês. Utilizar a língua gestual não significa que se seja mudo. Posso falar, gritar, rir, chorar, são sons que me saem da garganta. Não me cortaram a língua! Tenho uma voz esquisita, mais nada."
Comunicação.
Os surdos, simplesmente são bilíngues (aqueles que tem a sorte de aprender as duas línguas): a língua gestual que utilizam para comunicar sem sons, e a língua do país onde nasceram para poderem ler e escrever. São fantásticos! Eu considero que falo bem inglês. Mas não posso dizer que sou bilíngue!
O livro é delicioso de se ler. Dá-nos uma noção do que é ter-se nascido surdo e que obstáculos têm de ultrapassar no "nosso mundo", o mundo dos ouvintes."


(Eu in Lendas e Legendas, 07/06/2099) 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Não era...

... mordê-los a todos e mandá-los para Marte???"

p.s.: Desculpem, é mesmo uma private que eu tinha de deixar registada :)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Estou a ficar alemã...


Cena 1: Chegada a Lisboa, na bilheteira da CP, com dois amigos que encontrei ainda no aeroporto de Hamburgo, e uma fila de dez pessoas atrás de nós.

Ana: - "São três bilhetes para Coimbra, por favor."
 

Amigo da Ana: - "Olhe, este cartão X aqui dá desconto no meu bilhete?"
 

Vendedor: - "Não. Mas se tivesse o cartão Y dava. Sabe que o cartão Y tem a vantagem de .... blá blá blá. O cartão X só dá para... blá blá blá. Com o cartão Y poderia... blá blá blá..." 

Ana (preocupada com as dez pessoas atrás de nós): - "Pronto, deixe lá isso. Venda lá os três bilhetes normais."

Vendedor (com cara de quase ofendido): - "Desculpe, por estar a fazer o meu trabalho, que é informar os utentes." 

 
Ana (com cara de aflita): - "Desculpe. Tem toda a razão. Mas é que podem estar pessoas atrás de nós que precisem de apanhar um comboio em poucos minutos..."

Vendedor (com cara de "escusas de pedir desculpa, pois já o disseste!"): - "Pois. Aqui tem os bilhetes."


Ana (a pensar e com remorsos): - "Coitado do senhor... Ele a ser simpático e eu a querer despachar-nos por causa dos que estavam atrás..." 




Cena 2: Já em Coimbra, a pagar numa bomba de gasolina, depois de atestar o carro.

Ana (a escrever o seguinte SMS à S.: Então, onde é o café logo à noite?) : - "Bomba 2." 

 
Vendedora: - "Tem cartão Galp?"

Ana (ainda a tentar acabar o SMS): - "Não."

Vendedora: - "E não quer? Dá descontos!"

Ana (a pensar "bolas que ainda não consegui acabar de escrever o SMS"): - "Não." 

 
Vendedora (com cara de poucos amigos): - "Desculpe por estar a fazer o meu trabalho que é também informar... Aqui tem o recibo."

Ana (a pensar e com remorsos): - "Bolas, é a segunda vez desde que cá cheguei! Mas, estou a dizer alguma coisa de mal? Será que o meu português não é igual ao deles? Eu só não queria o cartão! Mas... Como é que isso se diz, afinal?..."


Aaahhhhhhhh!!!!!! Estou a ficar alemã.. HILFE!!!!!!


p.s.: Não se é de onde se vem, nem se é de onde se está. E agora...?