sexta-feira, 27 de março de 2009

"Almoçamos juntas?"


Ao contrário dos meus chefes, que devoram maçãs e bananas cedidas pelo escritório, ao almoço eu gosto de comer uma refeição. Não tem de ser quente, pode ser uma salada farta, mas tem de se poder chamar refeição.
Descobri um restaurante perto do meu trabalho onde passei a ir, quase todos os dias, almoçar. A comida não é nada de especial, mas para restaurante alemão e ao preço que é, não é nada mau! E lá até posso comer ao som de música brasileira!
Hoje, pedi mais uma vez, o prato do dia, embora não tenha conseguido traduzir o que dizia a ementa. Quando não é o meu espanto, é-me servido fígado panado frito com puré! Bem, viajei até casa da minha mãe e voltei passados 20 minutos! Fez-me mesmo lembrar as iscas de fígado que a minha mãe gosta de fazer, e que eu gosto de comer :) Nunca pensei conseguir com o sabor da comida alemã, viajar pela memória, até Portugal! Mas hoje aconteceu!
20 minutos, sim, é quanto dura uma refeição minha num restaurante. Normalmente levo uma revista comigo e finjo estar acompanhada. Faço de conta que passo a minha "hora" de almoço na companhia de alguém que decidiu telefonar e perguntar-me: "Almoçamos juntas? Ok, às 13h no Fórum. Até já!"

(foto daqui)

quinta-feira, 19 de março de 2009

E assim vai o mundo


Estava eu sentadinha a fazer a viagem de suburbano, entre o meu local de trabalho e a estação principal quando um casal sul americano se senta no conjunto de 4 bancos onde eu estava. Costumo viajar sempre à janela para apreciar a paisagem. O casal, sentou-se frente a frente, ele ao meu lado e ela à minha frente. O senhor levantou-se para ir verificar na planta da rede de comboios colada por cima da porta de saída, provavelmente a estação em que deveriam sair. Nisto, chegados a uma das estações intermédias, entram passageiros e um deles, de origem africana (de pele escura),tenta sentar-se ao lado da rapariga sul americana. Reparo que a rapariga ao mesmo tempo que lança os olhos bem abertos ao senhor, lança também a sua carteira para marcar o lugar para o marido, e no seu alemão atrapalhado tenta dizer: "este lugar é do meu marido!". O senhor de origem africana olha para ela com cara de quem não percebeu o que ela disse, volta a tentar sentar-se no dito lugar, empurrando a carteira para o lado. A rapariga continua a refilar com ele mas desta vez em espanhol. O senhor educadamente lá ia perguntando, num alemão igualmente cambalhotante, "qual é o seu problema, senhora?".
Nisto, a Ana pensa: "ainda vai sobrar para mim!". E sobrou.
A rapariga põe-se a chamar pelo marido, começa a explicar ao marido a sua versão da história (e a Ana a perceber tudinho em espanhol) quando atira para a conversa "e esta que está sentada aqui à minha frente não disse nada!!!!". Bem, já estão a ver a cena: a Ana a corar e a nada dizer... Por fim, lá fomos sentadinhos, cada um no seu lugar, e o marido da senhora a dizer-lhe que o tal senhor não deve ter feito por mal.
É uma gaita isto de se ser imigrante, deixem-me que vos diga. Numa cidade onde existe tanta mescla de nacionalidades, culturas, a última coisa que eu quero é entrar em discussão com quem quer que seja.
Eu passo a explicar a MINHA versão da história: a sul americana, ao seu jeito explosivo queria guardar lugar para o seu marido. Como normalmente faz no país dela, lança a carteira para guardar lugar e ainda espera compreensão e apoio dos que viram a cena; o senhor de origem africana ao pensar que estava, mais uma vez, numa situação de descriminação por ter pele escura, quis dar a entender que se está num país livre e onde o racismo já não tem lugar, e cada um tem direito a sentar-se onde bem entende. Educadamente ainda tentou comunicar com ela, mas de nada serviu. Ele sentou-se e o racismo perdeu.
A sul americana foi para casa a pensar "raios partam os pretos!" e o de origem africana foi para casa a pensar "raios partam os brancos!" :)
E eu fui o caminho todo a pensar que durante este tempo em que vivo em Hamburgo ainda não consegui perceber onde está a fronteira entre o "intervir / não intervir". E cheguei à conclusão que assim vai o mundo: cada um a falar a sua língua, cada um a sentir-se incompreendido, cada um com as costas voltadas para o outro.
Não teria servido de nada eu explicar ao senhor em alemão o que aconteceu, nem explicar à senhora em espanhol o que aconteceu, porque nenhum me iria ouvir, pois naquele instante, o importante é o que cada um queria ouvir.
E assim vai o mundo.

(a foto tirei daqui)

terça-feira, 17 de março de 2009

O meu contributo








Aqui fica:
http://mindthisgap.blogspot.com/2009/01/ana-couto-engenheira-civil.html#links

Missao cumprida


O trabalho tem corrido bem. Mas não posso só falar disso, senão pensam que estou a "meter nojo"! Ainda estou à experiência, 6 meses. Mas a verdade é que já "decidi" :D Enquanto puder não saio desta empresa!!!! LOL
Aqui têm à disposição dos trabalhadores frutinha, pãozinho, queijinho e máquina de cafezinhos e cappuccinos... Bem, isto é que vai ser poupar nos almoços ;) E olhem que são poucos os alemães que vão almoçar ao restaurante. E agora percebo porquê!

Deram-me telemóvel com montes de funções mas que não posso usar para uso pessoal. Só posso usar para assuntos da empresa. Eu só pergunto: então para quê um telemóvel todo XPO? Tem Internet, GPS, máquina fotográfica e dá também para fazer vídeos e sei lá o quê mais. Mas só posso telefonar para cenas do trabalho :D Nada de coisas pessoais! Recebi também um computador portátil que tenho de acartar comigo para casa. A isso é que não achei piada nenhuma! Pareço uma mula de carga!

Ontem fui almoçar com um dos meus chefes e ele disse que tinha pesado muito na escolha deles por mim, o facto de eu ter saído de Portugal porque queria aprender coisas diferentes, nao me ter assustado com a língua e a ter aprendido, tudo isto em ano e meio... É tão bom ouvir palavras como estas de vez em quando, principalmente do patrão... É que parece sempre que podíamos ter feito mais, não é?

É um trabalho sem qualquer stress, pelo menos por enquanto! Nunca pensei que em algum lado do planeta se trabalhasse assim. Aliás, eu não estou propriamente a trabalhar, produzir. Estou a ler. E acho que vou ficar assim durante algum tempo: a ler para me integrar no projecto. Este conceito de me estarem a pagar para eu aprender... Acho que nunca me vou habituar. É muito estranha a sensação... Embora perceba que na prática se obtenha muito melhores resultados: a pessoa não é "lançada" à coisa, mas sim, preparada, para quando tiver de entrar em cena, não fazer má figura. Prevê-se que este projecto entre em prática a sério, só daqui a 10 anos. E já andam nisto há já uns anitos!
Era isto mesmo que eu procurava: uma grande empresa que me ensinasse a organizar a longo prazo. E que me ofereça cafezinho de borla!!!! Pena que não é delta... Não se pode ter tudo.

Das entidades que me ajudaram a percorrer o caminho para encontrar este trabalho (principalmente o Centro de Emprego) não tenho qualquer queixa! Aliás, foram sempre impecáveis comigo. E o facto de ser portuguesa abria sempre as portas, de quem me atendia, para mais uma simpatia. A questão é que eu cheguei lá e disse, com toda a sinceridade: "não consigo arranjar emprego, embora já tenha enviado centenas de CVs. Preciso da vossa ajuda e não dos vossos subsídios! Quero trabalhar!". O meu Consultor no Centro de Emprego sempre foi um pouco distante comigo, aliás normal por estas bandas. E o fantástico é que até ele, quando soube que eu tinha arranjado emprego, ficou surpreendido, pela rapidez. Tinha acabado de me arranjar uma reunião com mais uma escola para tirar mais um curso (sem eu pedir, acho que já se estava a preparar para me pagar mais um curso :D!), quando lhe telefonei a contar a novidade. Acho mesmo que ficou contente e só não gritou (como eu, quando assinei o contrato) porque raízes culturais não o permitiram!!! LOL Mas eu senti que ele estava contente. Afinal, tinha cumprido a sua missão: ajudar-me a integrar no mercado de trabalho.

domingo, 8 de março de 2009

Endlich!


Nem tem imagem nem nada! É das minhas bandas sonoras preferidas. Não encontrei foi em português :(

Ora, então, muito bom dia!!!!

Isto é que é começar bem o ano 2009!

Daqui fala-vos a mais nova engenheira civil de uma empresa alema!
Pois é, depois de muito batalhar, depois de muitas pestanas queimadas de volta do maldito alemão, depois de um super-curso de CAD, depois de muita procura do caminho certo... Parece que acertei! Eh eh É que estou mesmo contente por mim! (E pelo R., claro ;) !!)
Sim, sim... Eu sei... Vocês estão muito orgulhosos de mim ;) ! Até eu estou! Eh eh eh eh :D

Claro, que mais uma vez, fui que nem executiva para a entrevista (que foi em alemão, pois claro!)! Mas desta vez, não foi só à conta do blazer, da calcinha vincada e da maquilhagem a tapar as olheiras... Fui e estive que nem executiva! Tudo bateu certinho com o meu CV. É verdade.
Mas então, que vou eu fazer naquela empresa...? Bom, fundamentalmente, ler.

Já se percebeu que estamos na "lama", nós europeus, com a nossa dependência de recursos energéticos fósseis de outros países. Já se percebeu, segundo estudos feitos na área da construção, que é possível poupar-se 20% (!) de tempo e de custos na construção de um edifício, se existir um planeamento rigorosíssimo numa primeira fase do projecto do respectivo edifício. Agora, imaginem que uma rede de empresas, Universidades e Centros de investigação (por toda a Europa) disponibilizou alguns dos seus elementos para desenvolver mais este estudo, com o objectivo de criar "uma nova maneira de pensar/trabalhar na construção civil". Queremos perceber como se poderá construir de uma maneira mais económica, rápida e ecológica :) O projecto é financiado pela UE e eu vou integrar a equipa da empresa alema neste projecto. A documentação já existente é em inglês, e os textos que eu produzir também serão redigidos em inglês (talvez esteja na altura de trocar as minhas aulas de alemão pelas de inglês... :S Mas nada de medos!!! Eu sei que consigo!).
Parece que a minha experiência em obra (de quase 3 anos) foi determinante na escolha da minha pessoa para este cargo, por isso, "benditas horas passadas a comer pó na obra".
Como devem imaginar, estou mesmo contente!
Agora passo a ter um horário como as pessoas "normais" têm: de trabalhador! Ainda não sei se me vão deixar estar à vontade com Internet, ou se só terei acesso a sites de pesquisa. Logo vejo, mas por mim, gostava de continuar "acessível" a vocês. Vamos ver ;)

Mas esta luta não foi fácil! Principalmente porque, na minha opinião, nós tugas não estamos preparados para este mercado de trabalho internacional (sim, para mim, este nível já é internacional).
A partir do dia em que consegui responder a 2 perguntas, por escrito, numa só frase para cada, percebi que iria conseguir. E as perguntas são:
1. O que é que eu quero (na minha vida profissional)
2. Porque é que eu o quero
Já fizeram estas perguntas a vocês mesmos? Ora então, tentem lá! Eu demorei umas 2 semanas a perceber e a por no papel. Desde aí... Ninguém mais me conseguiu parar :P !!!
Bom, não é um mega-giga-mail, mas já é qualquer coisa. Digam lá se não estavam com saudades???

Beijinhos!!! E uma óptima semana de trabalho!!!

Ana, a mais recente trabalhadora :D

Como vai a cultura em Hamburgo?


Hamburgo é realmente uma cidade de portas abertas para o mundo. E tem uma oferta de espectáculos incrível! Para todos os gostos e para todas as carteiras. É só abrir a pestana!
Aqui ficam duas pitadas do que se pode viver em Hamburgo e que eu tive a oportunidade de ver: Shibly Band (lembram-se do meu colega iraquiano?) e Itinerário do Sal.

(Não vos contei no ano passado, que fui ver a nossa pianista Maria João Pires ao vivo, no Laeiszhalle de Hamburgo, pois não? Nem que fui ver o pianista Lang Lang, também ao vivo? Acho que mandei só uma sms à I. ... :D )

Olha o Natal!


Da minha vivência aqui na Alemanha tenho retirado boas lições que levo comigo para onde quer que seja e que nunca mais vou abandonar.
"Porquê complicar o que é simples?"
E foi isso mesmo que aprendi com as pessoas daqui: descomplicar a vida.
Reciclar é simples. Reutilizar é simples. Reduzir é simples. A ida a um supermercado é simples. Utilizar promoções é simples. Aproveitar envelopes que são maiores do que o cartão de Natal é simples. A época Natalícia é simples. Um abraço é simples. Arranjar presentes é simples. DAR é simples. E é disso mesmo que o meu Natal deste ano vai ser: simples para mim.
E para os que me rodeiam, olhem... Aproveitem a beleza da simplicidade ;) !!!
Simples mas sempre com muito carinho. E esse carinho vê-se, sente-se. Eu sei que sim.

Um Feliz Natal para todos e que nos possamos reencontrar mais breve do que pensamos sempre.
Que 2009 nos traga pelo menos tanta coisa boa como nos trouxe o ano 2008, e para vocês, já sabem: que todos os vossos desejos se concretizem! Sejam eles o que for e em que lugar for!

p.s.1: aqui fica uma foto de um dos Mercados de Natal que existem em Hamburgo. São liiiindos, de fazer a imaginação correr e não parar mais! Ah! E lembram-se do Pai Natal que descrevi no ano passado? Pois bem, reparem do canto superior esquerdo da foto. Está ali!!

p.s.2: Quem quiser "aquele abraço" já sabe: é só dizer, que combinamos!! Simples, não ;) ?

Beijitos para todos!!!!
E MUITO FELIZ NATAL de coração...

Puxa pela pessoa e ela conseguirá fazer tudo!


Mas quem é que não se lembra da série infantil "Os Amigos do Gaspar"? Aqui fica a versão completa do nosso querido Sérgio Godinho.

O Outono por estas bandas já deu sinal de si... Há já um mês. Portanto, o corpo já apresenta sinais da readaptação à nova estação do ano: moleza, dores nos ossos (muita...:S Mas A semana habitual que costuma durar, já passou!), falta de apetite, e muita vontade de ficar em casa! À chuva já me habituei. A verdade, é que até já me atrevo a não levar chapéu de chuva sempre que o céu está carregadinho de nuvens, porque, como se costuma dizer: "Se não gostas do tempo de Hamburgo, deixa passar 10 minutos!". Ok, se calhar lá para o mês de Novembro, terei de acartar diariamente o chapéu-de-chuva. Por enquanto, vou sabendo escapar-me a esse peso.
É uma luta com o nosso próprio corpo que chega a ser revoltante! É que se te deitas para uma soneca de 30 minutos, esquece! O teu corpo põe-se logo em piloto automático, e pensando que já é de noite (porque a luz lá fora é de um cinzento medonho), liga o turbo e corre depressa em direcção ao Vale dos Lençóis! E levantar depois? E quais 30 minutos? Hoje, foram 2 horas, porque ME OBRIGUEI a levantar. É uma sensação muito estranha... O corpo fica pesadíssimo como se me dissesse: "Deixa-te de coisas! Vamos deixar-nos estar aqui no quentinho até amanha de manha!!!".

Os primeiros dias de Outono trouxeram mais uma vez a beleza dos mantos dourados de folhas caídas. Que maravilha de imagem para os nossos olhos!
Os esquilos habituais já se recolheram. Os coelhos ainda se conseguem ver, mas já não com a mesma frequência. A passarada já não canta. E o engraçado disto tudo é que a natureza não pára de nos surpreender! Até ontem tivemos uma praga cá em casa... Mais propriamente dito, no quarto. Adivinhem de quê? Joaninhas!!!! É verdade! Encontrámo-las todas ao monte num cantinho entre a janela e a parede. Pareciam que apenas dormiam aconchegadinhas umas às outras! Claro que nos passou pela cabeça que elas poderiam a meio da noite querer experimentar outros locais para dormir, como por exemplo, narizes e ouvidos... Mas quem é que é capaz de matar insectos como as Joaninhas...? Conclusão: deixámo-las estar, e não me perguntem como, desapareceram.

Há um ano atrás já tinha tido mês e meio das minhas primeiras aulas de alemão, tínhamos acabado de encontrar um cantinho para morar, e tudo era novidade. Um ano passou e quão depressa passou!

Neste momento estou a frequentar um curso de programas de Desenho Assistido por Computador que inclui AutoCAD, Allplan e Archicad. O curso é subsidiado na integra pelo estado alemão, e dá-me oportunidade de interagir com pessoas que apenas falam alemão (a ver se o meu alemao desenferruja de vez!). Começámos com AutoCAD 2007, e até me safei bem. Mesmo com teste SURPRESA TEÓRICO EM ALEMÃO a valer 50%... (Mas quem é que se lembra de fazer teste teórico a um programa de desenho???? Enfim...). Hoje começámos com Allplan que é um programa também de desenho, como AutoCAD, mas em certas coisas de funcionalidade bem mais simples (acesso a comandos, funções, etc..).
Sem ter aprendido alemão, nunca teria tido acesso a esta escola, a este curso. E assim, passo a passo, lá vou caminhando por um caminho que não tracei, mas cujo destino escolhi há um ano.
Se a primeira turma em que fiz parte aqui na Alemanha era constituída por emigrantes oriundos dos 4 cantos do mundo, que vieram para a Alemanha à procura de uma vida melhor e que enfrentavam diariamente problemas de integração social, esta por sua vez, apresenta-me uma imagem da Alemanha que eu ainda não conhecia. Falar a língua de um país estrangeiro dá-nos oportunidade de nos integrar melhor mas não nos dá a oportunidade para perceber como funciona em si, o país. Isso tens de perceber por ti.
Se na turma de alemão eu era das que tinha um grau de formação mais elevado (licenciada), neste também o devo ser! E passo a explicar: a maior parte dos meus colegas fez uma formação técnica, na área da engenharia, mas com uma duração de apenas 2 anos. Se eu em 5 anos era suposto ter aprendido a dominar Betão Armado, Estruturas Metálicas, Geotecnia, Hidráulica, etc.., estes meus colegas aprenderam em 2 anos a dominar apenas uma das matérias que eu referi.
Para mim, e se calhar por não ter tido a necessidade de estudar fora da cidade onde nasci, a Universidade foi uma continuação "natural" dos meus estudos. Aqui não é assim! Existem vários cursos possíveis em várias áreas, onde podes formar-te num determinado assunto, e entrar com alguma facilidade no mercado de trabalho. Em Portugal, para além das existentes quezílias entre Universidade e Politécnico, achamos que não há espaço para mais modalidades de formação superior. Agora entendo a frase: "Em Portugal, todos são doutores!". É que somos mesmo!
E explicar aqui, na Alemanha, qual é na verdade o nosso grau de formação? Não é fácil! Agora entendo porquê!! Se por aqui funciona assim, 2 anos para se formar numa área da Eng. Mecânica (outro ex.), como vou explicar que eu aprendi na Universidade a dominar um pouco de tudo? Às tantas, quem entrevista até fica desconfiado: "A menina diz que aprendeu a fazer de tudo, mas cá para mim não sabe é nada!".
Mas que somos bem formados em Portugal, ai isso é que somos!

Neste curso costumo sentar-me a meio da sala. Atrás de mim estão apenas 3 pessoas: os únicos homens do curso.
Rüdiger, deve ter os seus 45 anos, que numa altura da sua vida quando ainda era jovem, adoeceu, e adiou por completo os estudos. Entretanto vieram os filhos e a oportunidade de estudar só apareceu há uns 5 anos. Após 2 cursos técnicos (daqueles que vos falei) na área da Geologia e Engenharia Civil, frequentados ao mesmo tempo (coisa de que ele se orgulha imenso e compreendo-o bem: afinal, com criançada e já sem 18 aninhos, não deve ser fácil), aqui está ele, mais uma vez num curso de formação, com a mesma esperança que eu: entrar no mercado de trabalho alemão. Entretanto, durante todo o seu percurso, até encontrar um trabalho, recebeu e receberá, pela certa, ajuda financeira do estado. E aqui fica mais uma vez a pergunta: "Mas onde é que estes alemães vão buscar este dinheiro para financiar esta gente toda?"
Wolfgang, de 35 anos, já foi Encarregado de obra. Agora aprende a trabalhar com programas de CAD. Deste colega não me sai da cabeça: "Mas o que se passou para a vida dele mudar assim?"
Ali, a quem quase disse "Ah!!! Que giro! Como o Ali Babá e os 40 Ladrões!" (MAS NÃO DISSE!), vem do Iraque. Parece que é músico profissional. Tem corrido vários lugares do mundo a encher salas de espectáculos. Mas ao que parece, é em Hamburgo que quer ter a sua casa nos próximos tempos. Desta personagem é fácil perceber o que aconteceu: não é só em Portugal que "ser músico não paga as contas ao fim do mês", e após ter recorrido ao Instituto de Emprego, lá o encaminharam para o curso, tal como o fizeram a mim. No meu caso, tenho a certeza de que vai ser uma mais valia. Tal como para ele se se decidir a continuar na área da engenharia civil.
Este "grupo de 4" formou-se por circunstância de lugares na sala e pelo facto de nós apresentarmos dificuldades comparativamente ao restante grupo. "A união faz a força"? Neste caso, não tenho dúvida! A minha dificuldade é a língua alemã; A de Rüdiger vem da idade; Wolfgang, o pouco contacto com computadores que teve; Ali, a língua alemã e a dificuldade em compreender um computador.
O engraçado é que estas personagens, que mergulharam nesta aventura de aprenderem há pouco tempo a trabalharem com o computador, e que agora apostaram tudo em aprender CAD, não tem ainda contas de E-mail... Hoje em dia quem é que não tem um correio electrónico...? E eu, que sou uma apologista do "puxa pela pessoa e ela conseguirá fazer tudo!", associado a "Não tens???? Não pode ser! Vamos criar já hoje uma conta para ti!", comecei a dar umas dicas de GMAIL. Bem... Agora, até o Chat já usam! :D

Mudando de assunto, queria partilhar com vocês uma coisa que me costuma acontecer, sempre que quero comprar um par de sapatos novos, aqui em Hamburgo... É que é de um azar...! ;) Quando pretendo adquirir uma nova vestimenta para os meus pés, tenho por hábito correr várias lojas. Nesta cidade não há limites para promoções, por isso, nunca se sabe o que se vai encontrar na próxima loja. Quando se experimenta o sapato que está no mostruário, ele já ali está há já algum tempo, acabando mesmo por ficar com cor e forma diferentes, para não falar das dezenas de pés que já entraram por ali a dentro. E por isso, costumo sempre pedir, quando me decido finalmente por um certo par de sapatos, se me podiam trocar o sapato já usado por um novo. Ao que os funcionários me respondem sempre: "Infelizmente esse é o último par de sapatos que temos nesse número...". Azar dos azares...!!! Já é a 3a vez que a minha escolha não tem substituição possível do sapato usado! ;) (claro que as indicações que os vendedores recebem do patrão devem ser a de não trocar o sapato, senão nunca o conseguirão despachar, certo?).
Enfim... Mas lá trouxe o par de botas (sim, neste caso foram botas), cuja bota direita era a usada pelos clientes. Mas não se nota muito. E aliás, como o par foi comprado com dinheiro que me devolveram do par que comprei no ano passado, menos mal! Aqui os sapatos tem normalmente 2 anos de garantia. Aliás, sempre que compramos algo, guardamos sempre os talões, não vá ser preciso daqui a uns tempos, como me aconteceu este ano. As botas que comprei no ano passado estoiraram num ano. Voltei à loja e devolveram-me o dinheiro, directamente para a conta bancária, usando o cartão tipo Multibanco. Se fosse em Portugal, já estou a imaginar o filme: "Ah...Não sei se vai ser possível devolver o dinheiro. Nem oferecer um par novo! As botas estão estragadas porque a menina usou mal a bota! Como é que costuma apoiar o pé?" :D Por aqui até dá prazer em investir em sapatos! Podem ser caros, mas tem garantia a sério!

Depois deste mail gigante, deixo-vos apenas com uma dica para leitura:
"Por que é que os homens nunca ouvem nada e as mulheres não sabem ler os mapas de estradas", de Allan e Barbara Pease.
Ao contrário do que se possa pensar, este livro baseia-se em diversos estudos realizados em várias universidades do mundo. Não é de um cliché que se retrata neste livro. Tem explicações muuuuuito interessantes. E ficam já a saber que o meu cérebro, embora se encontre na Zona de Equilíbrio, foge um pouco à classificação de cérebro feminino habitual. :D Calma...! Não esquecer que a minha formação foi em engenharia! O que quer dizer, que afinal até devo ter mesmo jeito para ser engenheira!!! :)
(quando acabar de ler explico melhor no blogue habitual)

(Não, a foto não é minha!)

De alma lavada


Hoje, só podia ser Mariza.

As 3 semanas que passei em Portugal foram simplesmente... Divinas! É tão bom "voltarmos a casa" e sentir os braços abertos de quem nos recebe, seja família, amigos ou apenas conhecidos. Claro que da família nem preciso de dizer o quanto me sinto feliz por saber que me apoia. Dos amigos, basta um sorriso deles para saber que continuo a fazer parte da vida deles. Dos conhecidos, um acenar faz-me sentir que continuo a pertencer à minha querida cidade de Coimbra.
Mas até os desconhecidos nos fazem sentir especial! Passeava eu pela ponte D. Inês e D. Pedro quando um grupo de turistas italianos, entregando-me uma das suas máquinas fotográficas, me pediu para que lhes tirasse uma foto. Imaginem só que sem me pedirem qualquer informação comecei a relatar a história de D. Inês e D. Pedro como se assim mo tivessem pedido! "Seria possível este grupo passear por cima daquela ponte, naquela cidade, desejando fotos com a Universidade de fundo, sem saberem a história de amor que abraça a minha cidade?" Claro que não :) ... E ainda me aplaudiram no fim! "Oberigado! Oberigado!" e eu "De nada! De nada!". Estas pessoas escolheram a nossa cidade para passar uns dias, descansar, conhecer, viver, conviver... E não havia eu também de lhes abrir os meus braços? Claro que durou o que durou, o meu tempo de antena. O que eles queriam era descobrir sozinhos a cidade, mergulhar nas suas ruas e terem a impressão que afinal, Coimbra visita-se em 2 dias... :) Mas a mim, este encontro, soube-me muito bem!
Por entre passeatas no Parque Verde com família e amigos, banhos de sol na Reserva Natural da Ria Formosa (Algarve) e no Pedrogão, passeios nocturnos ao sabor da maresia da Figueira da Foz, Festival Andanças, passeios turísticos por Oeiras, viagens e mais viagens de comboio e camioneta e carro do Pai Tó, idas a Discotecas "meio-falhadas", lanches na Vénus e cafés no Galeria e sumos de laranja no Quebra-Costas, conversas no Jardim Botânico... Por entre tudo isso e mais uns peixinhos na grelha, ameijoa-cão à Bolhão Pato, açorda de marisco, arrozinho de polvo, mousse de chocolate caseira mais o requeijão com doce de abóbora... Venho de alma lavada e mais uns 2 quilos neste corpinho de "Schöne Frau". Eh eh
Ah! E uns 10 quilos a mais de bagagem que amavelmente deixaram passar no Check-in. Para Portugal levei uma mochila comigo vazia pois sabia que queria trazer comigo várias iguarias: queijinhos da Serra da Estrela (um amanteigado e um curado); chouricinho; farinheira; morcela; bolos de figo comprados em pleno Algarve; bolos-pinhoadas (?) mas feitos com amendoins; uns 2 quilitos de conchas também do Algarve.
Consegui colocar tudo isto na minha mochila. Senti-a "pesadota" e pelo sim pelo não pedi à senhora do Check-in se podia pesar primeiro a mochila, não fosse o pessoal do aeroporto decidir implicar com o peso da minha mochila e lá ficavam com os meus queijinhos e chouriços. Pesei e confesso que não pensei. Inocentemente, pergunto: "Oito quilos na mochila? Mas não é só permitido levar 5 kg connosco?", ao que a senhora, muda, me lança os seus olhos bem arregalados e um sorriso bem estampado na cara como quem diz: "Esta é a minha boa acção do dia!". E a seguir veio a mala que ia no porão: "A sua mala tem 28 quilos. Tenha uma boa viagem!". Acreditam que ainda abri a boca para tentar dizer alguma coisa???? O que vale é que a senhora foi uma querida e nem me deixou sequer falar! Há cada emigrante mais palerma...

Até dia 24 de Setembro continuo a ter tempo livre para quem quiser fugir do quentinho de Portugal e vir para um quentinho menos agradável. Mas continua sol! E 20 graus não é assim tão mau quanto isso! Por isso, quem ainda quiser aproveitar os últimos cartuchos que Hamburgo tem para dar este ano, ainda vem a tempo! A partir de dia 24 é que já não terei tanto tempo para quem nos vier visitar, pois o meu curso começa às 8h e termina às 16h. Ai... Vai custar tanto nos meses de Novembro e Dezembro... Sair com aquele frio e aquela chuva... De noite. E voltar a casa de noite... :S Mas pelo menos a nossa casinha daqui é quentinha no Inverno! E sem aquecimento ligado :P !!!!!
No dia 26 de Setembro volto a Portugal para o casamento de uma amigaça mas infelizmente tenho de regressar logo no dia 28. O R. desta vez também vai e fica! Até dia 7 de Outubro podem e devem abusar da companhia do rapaz que vai cheio de saudades vossas. E saudades do sol e da comida... Bom, já sabem como é, né? Afinal, somos portugueses! Cada prato traz-nos uma lembrança de convívio com família ou amigos! Ou seja, no fundo nós não sentimos falta da comida, sentimos é falta de vocês! É que pensando bem, acho que já me sentei à mesa com todos vocês, numa ocasião qualquer! Não admira que tenha regressado com não sei quantos quilos a mais! Nem me atrevi a pesar, claro! Para quê, se as calcas falam por si??? :D