domingo, 26 de abril de 2009

Portuguesa, die Böse


Eu já tinha lido num blogue que alguém tinha um colega que enquanto escrevia ao computador, ia falando o que teclava. Achei estranho...
No openspace onde trabalho, existe um rapaz que tem por hábito assobiar parte das músicas que tocam no rádio que faz questão de ligar todos os dias. O rádio, a mim não me incomoda, pois costuma até estar baixinho. Agora o assobio... É que não é um assobio suave, baixinho, melodioso... Não! É um assobio apenas durante as partes da música que são mais importantes para o rapaz. O que é que nos soa, a nós, trabalhadores concentrados no trabalho? A uma facada na nossa concentração! Facada irritante!
Bom, isto durava há um mês, até que a Ana, achou que devia pedir ao rapaz para tentar não assobiar tanto. :D Estava eu e o meu patrão a dirigirmo-nos para a porta de saída do openspace para ir almoçar, quando ao passar pelo rapaz, viro-me e digo, à boa maneira portuguesa com um sorriso de orelha a orelha: "Mas quem é que está a assobiar? Ah! És tu! Olha, podias não o fazer? É que ouve-se na sala toda e não me consigo concentrar...". A início nem sequer percebeu o que eu queria dizer, coitado. Mas de repente fez-se luz e disse: "AH! Ok, desculpa! E o rádio?". "Não, o rádio pode ficar!". Volto para junto do meu patrão e ele vira-se e diz-me: "Arm Jung..." (pobre jovem, foste dura!) Ao que eu respondo: "Nada disso! Aguentei um mês! E isto de se ser estrangeira tem as suas vantagens! Pode-se dizer umas coisas e não se ficar "mal visto" pois é uma "questão cultural". A partir de hoje, sou A Portuguesa Maquiavélica" :D
No fim do dia, um pouco com remorsos (pois isto de se trabalhar num grupo "internacional" tem os seus pormenores) ofereci ao rapaz umas gomas que a nossa colega costuma trazer para o nosso grupo. Sim, eu sei, ela traz e eu fico com os louros. Mas neste caso, justificou-se! Ao rapaz, enquanto lhe oferecia gomas perguntei-lhe se tinha sido muito dura. Ao que ele responde, não. Puf! Acho que ficou tudo bem. A minha colega só tem de continuar a trazer umas gomitas :D

Vao andando que eu vou lá ter!


Ora muito bem, é verdade! Depois de já ter falado do grupo aqui, fomos ver "Deolinda", ao vivo aqui em Hamburgo, também na Fabrik.
E ainda tive direito a um autógrafo! Ora reparem bem na foto deste post :D

Ler mais aqui.

Última semana, finalmente...

A música de hoje é em alemão! E está na moda.

Desde que aqui cheguei que tenho aulas de alemão e por isso já passei por muitas turmas. Já frequentei desde cursos intensivos de integração para emigrantes aos cursos de horário pós-laboral. Nos primeiros chegávamos a ser 20 alunos, a ter aulas 5 horas por dia. Neste último curso, no Instituto Goethe, a uma semana de acabar as aulas, somos 3 raparigas!
Mesmo depois de começar a trabalhar fiz questão de continuar a ter as 3 aulas semanais de alemão depois do horário de trabalho. Sair do trabalho às 17h (nada mau!) e ter aulas de alemão das 18h30 às 21h, chegar a casa às 22h, comer qualquer coisa e cama! Dois meses já se passaram nestas condições. Conclusão: ando de rastos e a contar os dias para as aulas acabarem e eu poder ter uma vida mais próxima da chamada "normal".
Andei uma altura frustradíssima com esta língua "de batata quente na boca". Sentia-me também revoltada comigo mesma por não conseguir evoluir à mesma velocidade nestes últimos 3 meses o que evolui nos primeiros 3 desde que cheguei à Alemanha. O facto de ter arranjado um emprego em que o trabalho se desenvolve à volta de ler e escrever em inglês, também não ajudou muito. Chegou a um ponto em que misturava as duas línguas e não me apercebia ou davam-me "brancas", bloqueava e tinha de pensar "mas afinal em que língua estou a falar??".
Mas esta frustração e revolta é bem conhecida por quem dá as aulas, ao ponto de termos uma lição específica no nosso livro em que o assunto é abordado. Entre outras coisas, nesta lição, pode-se encontrar a explicação do porquê de uma criança aprender facilmente duas línguas ao mesmo tempo, e os adultos não - para quem está na mesma situação que eu, a aprender uma língua completamente nova, sabe da indignação sentida, quando ouvimos um puto de 5 anos a falar a respectiva língua melhor do que nós que já estamos na casa dos 30 (sim, para o miúdo é a sua língua-mãe, mas eu não deixo de me sentir frustrada por o ouvir a falar com os artigos correctos, e aplicando os casos em que é dativo, acusativo e até genitivo!!!).

Motivos principais para a facilidade característica das crianças para aprenderem uma nova língua, comparando connosco, os adultos:
1. aprendem por imitação e não segundo raciocínio lógico (não estão a pensar se é masculino ou feminino, se devem aplicar dativo ou acusativo, simplesmente falam como ouviram os outros falarem);
2. fisicamente apresentam a sua estrutura vocal muito flexível comparada com a de um adulto que falou uma só (ou até mais) línguas durante 30 anos, e que durante esse tempo repetiu sempre os mesmo sons, fazendo com que o corpo se habituasse e adaptasse a tal (razão pela qual nos é tão difícil livrar-nos do sotaque das línguas que sempre falámos).
A bem dizer, nós portugueses, somos uns sortudos. A nossa língua é muito rica em sons e sempre tivemos acesso ao filmes estrangeiros nas suas línguas originais, existindo dobragens apenas para filmes infantis. Por exemplo, os espanhóis falam mal inglês, ou qualquer outra língua estrangeira (no geral). Toda a gente sabe... Mas tal facto tem também uma explicação, dita pelos próprios (!): tudo o que é película estrangeira é dobrada para o espanhol, para que nenhuma das comunidades autónomas se esqueça "a quem pertence" (a Espanha!!!). Para além disso, na escola, o inglês é pessimamente ensinado. Ou seja, se toda a vida falaram espanhol (sem contar com os dialectos), não será fácil para nenhum deles falar um novo idioma.

Ah! E o que eu vos expliquei da nossa estrutura vocal se adaptar à língua que se fala, já me atrapalha!! Apercebi-me de que quando falo inglês, a minha língua enrola-se de uma maneira como nunca fez, até eu começar a aprender alemão! Fisicamente, até a minha estrutura vocal e músculos da face, num ano e meio, ficou diferente!

A fase da frustração, em si, já passou. Estou conformada após ter aceite que poderei melhorar mas nunca conseguir falar perfeitamente alemão. Sei que fiz tudo o que podia ter feito: desde o primeiro dia em que pus os meus pés neste país que tenho aulas de alemão, continuei a ter aulas mesmo depois de ter um emprego, e faço questão de falar esta língua mesmo com aqueles alemães que sei que falam inglês.

E eu sou uma portuguesa a viver na Alemanha. E não um estrangeira que se quer tornar alemã :)