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Quando vou a Portugal, a história repete-se: viajamos no espaço e também na realidade. É uma sensação estranha, para dizer a verdade. Vamos em espírito de "relax", claro, e por isso é que nos parece que entramos noutra realidade. Família e amigos trabalham até tarde e por isso fazem-nos esperar (e desesperar contando minutos) até à hora de jantar, de um café à noite ou com sorte, de um lanche. Por isso, até lá, preenche-se o tempo com actividades que normalmente na nossa cidade nunca teríamos feito se nos encontrássemos a trabalhar.
Quando oiço as pessoas falarem do seu trabalho, também é interessante, volta a sensação de "viagem na realidade". Não há vez que viaje a Portugal e que não me pergunte "mas afinal, o que estou eu a fazer na Alemanha???".
A única explicação que dei sobre o meu trabalho aqui, foi por escrito, num destes giga-mails. Depois disso, poucas foram as vezes que o fiz contando. Parece que a partir do dia em que a missão de encontrar trabalho ficou cumprida, deixou de ser para mim (para os outros?) interessante de explicar melhor o que faço.
Da última vez que estive em Pt, alguém me fez a pergunta: "mas pelo menos estás a gostar?"
A distância tem destas coisas: passado algum tempo, contar a novidade com entusiasmo, desaparece. Porque para mim é novidade até à segunda, terceira semana. Mais do que isso, já não. E como só vos vejo "de vez em vez", torna-se difícil guardar o entusiasmo, para quando vos encontrar numa próxima vez, voltando a soltá-lo.
Mas a resposta à pergunta que todas as vezes me faço quando estou em Portugal, eu já a sei! Só me esqueço dela, por vezes. E é quando eu caminho pela nossa rua em Hamburgo, coberta pelas ramas das frondosas árvores de um verde forte, salteada por coelhos e esquilos à solta, ensurdecida pelo canto dos pássaros despertos pela Primavera, que volta à minha memória a resposta: "Ah! É por isto! E ainda pela oportunidade que me deram de trabalhar no projecto europeu! E ainda pelos amigos de várias culturas que me abriram seus braços! Pelo que me desenvolvi em diferentes línguas que falo agora fluentemente! Enfim, pelas portas que se abriram na minha vida".
Dois anos já terão passado em Agosto, e tudo, mas tudo o que passei até agora valeu a pena.
Quero voltar a viver aí. Vou voltar. Não com uma mala cheia de dinheiro, conduzindo um Mercedes :P mas sim com uma bagagem cheia de conhecimento que levo em minha mente e coração. Isso foi o que vim cá fazer: crescer.
E sabem que mais? Custou-me imenso escrever este texto... Está bonito, está... Qualquer dia, sei falar todas as línguas e nenhuma de jeito.
A semana passada comecei outro Tandem: português-espanhol. Não estava propriamente nos meus planos aprender espanhol (aperfeiçoar o meu portunhol, portanto!), mas a verdade é que não consigo dizer que não, quando sou abordada por alguém que quer aprender a língua de Camões. Não há nada a fazer, derreto-me toda!! Chama-se R., é meu colega de trabalho e vem do México.
Hoy compré mi primero libro en español: "Cuentos cubanos" (Onelio Jorge Cardoso, Virgilio Piñera, y outros más)E o tandem de indonésio (perguntam vocês)? O António Pitoyo regressou às origens, não há hipótese! E era bem "descomplicadinha", a língua indonésia. É que eu para ler espanhol, por exemplo, tenho de tentar produzir os sons das palavras, para conseguir perceber o sentido da frase, já que o que conheço dessa língua é a sua sonoridade. As palavras espanholas nao representam para mim qualquer significado, excepto aquelas que se escrevem da mesma maneira em português.
Aliás, até em português isso me acontece: a visualização de uma palavra, só por si, já não significa de imediato algo. É como se de uma descodificação se tratasse: as palavras passaram a ser um bolo de letras, que baralhadas e ordenadas de outra maneira, sei que darão mais palavras mas noutras línguas. Puf...! Só de pensar nesta baralhada de letras, os meus olhos reviram de cansaço. Vou mas é descansá-los...
Hasta!