sexta-feira, 3 de maio de 2013

Offshore, a quanto me obrigas!

Não sei se sabem, mas eu não tenho (tinha ;) ) muito à vontade com a água (o R. faz mergulho e eu sempre me recusei a aprender por achar que me ia passar lá em baixo, com cenas na boca para respirar envolvida por vários m3 de água. Por isso, enquanto ele mergulhava por mares da Tailândia e Indonésia, eu fazia snorkling :P). Mal sabia eu o que me esperava no treino de offshore, a sério...

Tudo começa com testes para ver qual a nossa capacidade de nos aguentar debaixo de água, contendo a respiração: atravessar a piscina (10 m?) de uma ponta à outra agarrada a uma corda que está presa ao fundo sustendo a respiração (e chegar à corda?) - testam se aguentas pelo menos um minuto debaixo de água (consegui em 50 segundos, puf! Passei!).
A seguir, pedem-nos para colocar as pernas (parte de trás dos joelhos, de barriga para cima) sobre uma barra metálica que está à superfície (isto dentro da piscina!). Com um colete salva-vidas que tem um saco e um bocal que usas para respirares (ar que inspiraste e expiraste lá para dentro), empurram-te o corpo para baixo (o tronco roda em torno da tal barra pelas pernas) e tens de aguentar também cerca de um minuto (depois de duas tentativas lá consegui).

A questão é que ninguém nos explicou o que íamos fazer. Íamos sabendo à medida que nos mandavam. Não sei se foi de propósito, para não entrarmos em pânico e desistirmos, ou quê... Se eu soubesse o que teria de fazer, não sei se teria ido :D Ou se calhar até explicavam mas como foi tudo em alemão… Adiante!

Depois, temos de saltar em queda livre cinco metros, de olhos fechados, e a "abraçar" o nosso tronco (posição de protecção) - opá, eu não sei como é com vocês, mas eu achei horrível a sensação de nos "deixarmos cair" para a água! Tivemos que fazer duas vezes em dois exercícios diferentes... Eu só dizia entre os dentes, mas alto o suficiente para me ouvir a mim mesma "Ai mãezinha... Ai Ana no que te meteste. F***** e m**** para esta cena. Pronto, é fechar os olhos e sal-taaaaaaaaaaar....!". Depois de vir ao de cimo e conseguir respirar: "Pronto, eu estou calma, Ana, já passou...!"

Aquela piscina tinha de tudo para simular acidentes no pior cenário: o tal helicóptero, luzes desligadas (noite), luzes intermitentes (relâmpagos / tempestade), ventoinhas poderosíssimas (ventos fortes / aproximação do helicóptero), gotas de água vindas de cima (chuva), enfim... O penúltimo exercício era simular um resgate nessas condições. Ai mãe, aí uma pessoa pensa: foge, isto não é para "meninos"!

Todos os exercícios foram feitos de olhos fechados por duas razões: num acidente pode haver derramamento de óleos ou outros produtos tóxicos e ajuda a não ficarmos completamente desorientados na cena do helicóptero.

Eu sou sincera, não achei "piada" nenhuma ao treino. Piada no sentido de "fixe" e tal, "férias radicais e tal e ainda te pagam para tal" (como escreveram no FB). Os meus colegas estavam muito mais à vontade e até se estavam a divertir. Nós, as duas únicas mulheres, desabafámos no balneário na primeira oportunidade "eu só quero ir para casa...!". O meu colega bem dizia: "Ana, se te divertires, é muito mais fácil!", e eu: "Meu! Estamos a treinar para um caso de emergência!!! Divertir???"

Porém, algo de muito importante me apercebi. O nosso instinto de sobrevivência funciona :) O que me alegra imenso saber. Até eu, que nunca fiz desporto (e nem sei o que é isso :P) também tenho um instinto de sobrevivência. A primeira vez que "sobrevivi" ao exercício do helicóptero (depois de eu chegar à superfície da água, o meu treinador me agarrar pelo colarinho do fato, e dizer que eu tinha de repetir o exercício, porque tinha saído depressa demais do helicóptero... "Ana! Tens de esperar!!! Que o helicóptero afunde mais!" e eu "Como assim?" e ele "Até não se ouvir mais bolhinhas de ar! Vamos repetir!" e eu em voz alta "pqp o raio do homem e este exercício!"), pensei, isto é mau, mas sobrevivi. Sorte? Talvez… Da segunda vez pensei "Ok, dois de seis exercícios já cá cantam! Um terço, um terço dos exercícios estão feitos!". Ao terceiro exercício, correu tão bem e tão suavemente, que cheguei à tona da água e pensei "Ah... Afinal, não é assim tão mau. As primeiras duas vezes é que se estranha".
 Logo a seguir, no quarto exercício, fiquei tão contente por saber que 2/3 dos exercícios estavam feitos (mais de metade!) que quando vim ao de cimo pus o braço no ar com os quatro dedos em posição, e em seguida, baixei-o com velocidade enquanto dizia (com os treinadores a olharem para mim a rirem-se) "FOUR! Number four!! Just TWO to go! YES!"

Nisto tudo, se no princípio estava preocupada em ter de repetir este treino daqui a dois anos, depois de descobri que afinal só se tem de fazer o treino de quatro em quatro anos, passei a ficar apreensiva: "como assim, repetir estes exercícios só daqui a quatro anos? Vou-me esquecer de tudo até lá!"

Ah! E esqueçam lá eu ter ou poder salvar alguém em caso de acidente. Eu? Salvar alguém com 100kg?? Já salvarem-me a mim, é outra história... Eu sou apenas um "saquito de 52kg de peso" ;) A mim, qualquer trinca-espinhas salva.

Já vos contei que os treinadores eram quase todos ex-militares do exército alemão? Agora podem imaginar a força que senti no pescoço quando o meu treinador me puxou pelo colarinho para eu repetir o exercício. Acho que aí, foi a única vez que me senti a quase a afogar :D A primeira foi quando fizemos o exercício de virar a tenda flutuante ao contrário e que temos de nos deixar cair para trás, agarrando-a, e esperar que ela nos caia em cima. Tipo sanduiche: água, eu e por cima a tenda. Literalmente. Epá, mas as restantes histórias ficam para a próxima.

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