quinta-feira, 25 de junho de 2009
quinta-feira, 11 de junho de 2009
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Então, foi assim:
Ontem tive a minha primeira apresentação sobre o trabalho que estou a fazer.
Resumidamente, lidero a execução de um dos documentos do tal projecto europeu que já aqui vos falei. O meu documento (Task 1.4 "Communication strategies") é resumidamente sobre change management na área da construção civil europeia. Existem umas dezenas de tasks. Na minha estamos a tentar perceber quais serão os agentes da mudança que permitirão implementar um model based and collaborative work. Depois de percebermos quem serão os agentes estaremos em condições de definir as estratégias a implementar daqui a... Sei lá! Uns 20 anos (na Alemanha :P).
Ontem reunimo-nos (alguns do grupo de pesquisa) para delinear tarefas necessárias ainda a realizar para que o documento esteja em "versão final" até dia 19 deste mês.
Claro está, voltei a ir que nem executiva! Calcinha de vinco, blazer a condizer com camisa e sapatito raso. Mas desta vez de computador na mão!
Opá... o que dizer? Correu bem! Tendo em conta que eram 5 alemães e uma tuguinha... Que entre eles falaram durante toda a reunião em alemão (coisa que eu já esperava), que do sentido geral das ideias surgidas e comentadas percebi 80%, do vocabulário usado por eles 60 %... Não foi mesmo nada mau! O que interessa é que apanhei o que tenho de fazer no próximo passo.
Quando saí de Portugal sonhava. Gostava de vir a trabalhar numa empresa onde tenha de viajar muito. Gosto de viajar, sinto-me livre. E com malita do computador na mão, que nem uma executiva!
E ontem foi exactamente isso que aconteceu! A reunião foi na Hochtief, a maior construtora alemã. Seria impensável sequer, em Portugal, pensar que teria hipótese de entrar na Teixeira Duarte, Sá Machado, Edifer... (exemplos estes que como diria o "outro": Ana, não tem naaaaada a ver!) E aqui, entrei pelo edifício daquele gigante adentro, atravessei aquela entrada de portas envidraçadas, percorri aquele hall de entrada enorme e luminoso, subi um dos elevadores panorâmicos que me levaria à sala de reuniões, preparei o computador e os meus apontamentos e fiz a minha apresentação.
Ontem estava a caminho de casa, já de volta de uma viagem de 2 horas e meia (5 horas no total) de comboio rápido, e pensava: bolas... Então é isto... Estou de rastos! Espero que a próxima viagem seja daqui só a alguns meses!
Quando andava à procura de emprego em Portugal, fui até à maior construtora metalúrgica portuguesa entregar o CV. Lembro-me como se fosse ontem. Não passei da recepção. Mandaram-me preencher uma folha com os meus dados. Entreguei-a e ela voou pela mão da recepcionista para um monte de folhas-irmãs de outras centenas de candidatos. Não deixei CV. Disseram-me que me contactavam.
Post aos Emigrantes
Bom, neste dia, 10 de Junho - Dia de Portugal, enquanto uns estao no "duro" outros estao a apanhar sol! :P
domingo, 7 de junho de 2009
Como assim, amigo??
Temos um amigo dinamarquês a quem eu chamo de Big Friend, porque para além de ter um carinho especial por ele, ele é mesmo Big, enorme, tipo Viking. Conheci Thor num encontro europeu de juventude na Dinamarca.
Numas das primeiras vezes que Thor esteve em Portugal, juntámo-nos, Thor e o grupo de tugas que se tinha conhecido nesse encontro.
Fomos até ao Bairro Alto comer num restaurante fantástico de comida sul americana. Já não me lembro bem, mas penso que o restaurante era mexicano. Thor pede um bom belo bife que, tal era o seu tamanho, apenas conseguiu comer metade.
O dinamarquês é diferente do português. O português pensa: "estou cheio mas como paguei, vou comer tudo até ao fim!". O dinamarquês, não. Ele pensa simplesmente: "Estou satisfeito. Não preciso comer mais".
O Thor, satisfeito, vendo o Tiago observar o resto do seu bife, pergunta-lhe: "Queres?", ao que o nosso amigo responde "Não".
O dinamarquês é diferente do português. Para o dinamarquês, "não" é não, e só é preciso dizer uma vez. Para o português, não. Um não, é um "talvez", um "insiste mais duas ou três vezes, que eu aceito!".
Entretanto o nosso amigo vai ao WC e a empregada dirige-se à nossa mesa e retira os pratos de quem já tinha terminado de comer, incluindo a metade do bife gigante do Thor. Quando o Tiago volta do WC, repara que a metade do bife gigante desapareceu... Bem, nunca tinha visto olhos tão arregalados na minha vida, a não ser os do Tiago quando pergunta: "Opá! Que é do resto do teu bife? Deixaste-o levar??? Ainda tinha tanto!". E o Thor, muito calmamente, responde: "Mas eu perguntei-te, se querias...". E o Tiago: "Sim, eu sei! Mas... Quer dizer... Bolas...!"
No outro dia contei esta história ao meu colega mexicano, ao que me diz o seguinte (isto tem de ser partilhado!!!!!): "Por isso é que nós, latinos, percebemos tão bem as mulheres... É que elas nunca dizem o que verdadeiramente querem. Um sim, pode ser um não, e um não um sim. Hoje querem uma coisa, amanhã outra...E nós temos jeito em lidar com essa disparidade. Os do norte da Europa, não."
Como assim, amigo???
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Será?
É isto mesmo! A comunicação é o veículo para a integração de alguém em qualquer que seja o ambiente. Agora que já consigo ter um diálogo em alemão, muitas portas se abrem para mim. Mas antes de o conseguir, lembro-me que era exactamente isto que sentia. Uma sensação de não se pertencer a este lugar. Foi terrível, no início! Não perceber porque riam as pessoas, porque estavam tristes, porque se zangavam... Falavam uma língua que eu não entendia.
Foi neste livro que encontrei por escrito sensações e sentimentos em relação à língua alemã. Quer dizer, não é propriamente em relação ao alemão, em si... Agora o entendo. É em relação a qualquer língua que não se saiba, não se domine.
Emmanuelle escreve:
"As pessoas dizem-me: "Fala, fala, nós compreendemos."
"A necessidade de estarmos juntos, de falar entre nós. De recuperar não só tempo perdido durante o dia com os que ouvem, mas a nossa língua, a nossa identidade."
"Não precisar de me estafar na tentativa de falar oralmente. Reencontrar as mãos, o à-vontade, os gestos que voam, que falam sem esforço, sem constrangimento (...) De súbito desaparecem as frustrações."
Numa destas noites, eu e Judit (colega do curso de alemão, de Barcelona), num pub em Repperbahn, esperávamos pela nossa vez de jogar matraquilhos quando conhecemos dois tugas. Percebi logo que o eram pois falavam entre si português. Mas como eu e Judit comunicávamos em alemão (para treinar) os tugas não se aperceberam que eu era também tuguinha. Nisto, antes que se entusiasmassem com alguns comentários, deixei-me identificar, e disse-lhes "Boa noite!". Resposta do tuga mais pequenito: "Boa noite! Então é portuguesa! Não dissemos nada de mal, ou dissemos?" :) Conversa puxa conversa, o mais pequeno comenta que falo muito bem alemão, para quem cá está apenas há ano e meio. E que ele nunca aprendeu alemão. Não precisa, diz.
O tempo passa, eu e a Judit já jogámos um jogo e já voltámos a colocar nova moeda sobre a mesa de matraquilhos para uma desforra. Volto para a conversa em português, e claro que surge a pergunta: "E então? Porque estás cá?". Lá respondo que tinha vontade de viver outras coisas, ganhar experiência numa empresa alemã, para depois voltar para Portugal. Novamente o mais pequeno diz: "Ohm... Eu queria juntar dinheiro, e por isso vim para cá há 10 anos. Eu vou vendo os meus colegas a pedirem-me para fazer os turnos deles. E eu lá vou dizendo que sim. Ganho mais uns trocos, claro. Mas... Por vezes penso: para quê?. Mas eles tem namoradas e isso. Eu não tenho. E para que quero eu fazer tanto turno?". Nisto, o tuga maior, interrompe-o: "Depende do que queres da tua vida! Eu sei o que quero. Quero poder comprar uma terra no Alentejo (é que eu sou de lá), poder construir uma casita, e viver por lá. Entretido. Com a minha família, claro! Para isso tenho de trabalhar! Ganhá-lo!". :) Nisto penso: ainda "existem"... Foi interessante ter aquela conversa, em que se dá o choque de mentalidades. Parecia que o mais pequeno queria "acordar" do sono anestesiante de emigrante que vem para a Alemanha trabalhar que nem maluco para ter dinheiro. Por pouco pensei que ele iria consegui-lo.
Viver aqui fez-me ver o Emigrante português de outra forma. Tenho bastante respeito por todos eles, na verdade. Arrumaram a trouxa e vieram para um país onde não conseguiam falar a língua, comunicar. E desenrascaram-se! Mas, quantos não devem sentir a frustração de tentarem comunicar-se com pessoas que falam alemão, e não conseguirem? Porque não aprenderam... Eu pude aprender alemão. Mas a maior parte dos que vem para cá, não vêm para aprender alemão! Vem para ganhar dinheiro! Não podem tirar simplesmente 6 meses para tirarem um curso intensivo de alemão, como eu fiz. E acabam por se deixar estar no seu cantinho, no cantinho que os faz sentirem-se seguros, no cantinho onde estão outros como eles, no cantinho português. Entendo-os. Compreendo-os.
A falta de comunicação entre comunidades (sejam elas de que nacionalidade for) é uma prisão. De onde é complicado de sair pois leva tempo! Ainda hoje me sinto frustrada quando não percebo tudo o que me dizem, principalmente se estamos em grupo e de repente todos se riem, e eu... Também! Para não perceberam que perceber a piada, não percebi!
Mas o caminho para um ambiente saudável numa sociedade, é mesmo conseguir-se comunicar. Aprender a língua do país que nos acolhe. No fim, é uma troca de interesses. Nós somos a mão-de-obra barata de que a Alemanha precisa. E eles são quem nos dá a oportunidade de sonhar com um futuro melhor. Mas nada disto é possível se não houver comunicação.
E depois de ultrapassados todos os obstáculos inerentes a tal "prisão", barreira, é espantoso! Passa-se a poder absorver tudo à nossa volta! A cultura de um país é interessantíssimo de se entender. Perceber porque é que as coisas se tornaram da maneira que se tornaram. Perceber porque é diferente do nosso país. Percebermos, principalmente, como "nós" somos... Afinal, quem somos nós? O que somos?
São várias as sensações que tenho ao estar longe de casa (Pt). É perguntar-me "mas que estou eu a fazer na Alemanha?", e ao mesmo tempo, "E o que haverá para além da Alemanha?". É sentir-se a saudade da maresia do Atlântico, e ao mesmo tempo, "haverá maresia no Pacífico?". São cócegas. É um bicho. É um bichito que vive dentro de mim e que quer saber tudo, absorver tudo.
Mary, a minha amiga colombiana, disse-me uma vez: "Vocês portugueses, são como os alemães. Querem ir para outros países para conhecer como vivem, como é a cultura, e depois partem. Porque o vosso lar será sempre a vossa terra". Será?
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