quarta-feira, 23 de junho de 2010

O meu diálogo preferido

Relativamente ao meu post anterior...

Ana: -"Hoje vou ter a minha aula de alemão. Há três anos que ando nisto..."

Alemão: -"Olha, sabes o que é que ajuda com o teu alemão? Leres revistas, jornais..."

Ana: -"Pois. Eu costumo comprar uma muito boa, específica para emigrantes."

Alemão: -"Ah... E televisão? Tu vês televisão em casa?"

Ana: -"Não tenho televisão."

Alemão: -"Mas podes ver na internet!"

Ana: -"Na verdade prefiro não ter televisão em casa. Mas eu continuo com as aulas de alemão. E faço também Tandem. No trabalho sou obrigada a comunicar com os meus colegas em alemão o que puxa bastante por mim..."

Alemão: -"E rádio? Ouves rádio?"

Ana: -"Oiço quando estou em casa."

Alemão: -"Hmm... O teu marido é alemão?"

Ana: -"Não. É português"

Alemão: -"E falas com ele em casa em alemão?"

Ana (com aquele ar de "ah???"): -"Não. Falo português!"

Alemão: "Ah, pronto! Está explicado! Assim não vais lá..."

Aprender a língua do país que nos acolhe


No seguimento do meu texto anterior, hoje escrevo sobre aprender a língua do país que nos acolhe quando lá pretendemos viver, com base na minha experiência pessoal.

Logo na minha primeira semana em Hamburgo comecei a frequentar um curso de alemão intensivo, o chamado curso de integração para emigrantes sobre o qual referi aqui e aqui. Devo dizer que foi a melhor coisa que fiz quando para aqui vim morar: aprender alemão de raiz. Eu não sabia nada de alemão e isso revelou-se uma vantagem para mim: não tinha quaisquer "erros vincados" que se tornam complicados mais tarde de corrigir. Foi como voltar para a escola primária! A duração normal de um curso deste tipo é de 6 meses. No final desse tempo é suposto estar-se apto para fazer o exame que dará o tal Zertifikat Deutsch (se se passar, é claro). Como ainda não me sentia segura em relação ao alemão que falava, acabei por frequentar as aulas por mais um mês e, passado outro, fazer o exame. Passei.

Terminado o curso de integração para emigrantes continuei a aprender mas no Goethe Institut (o Instituto Camões cá do sítio) como contei aqui. Foram mais seis meses de aprendizagem, 3 aulas por semana de hora e meia em horário pós-laboral. Passado esse tempo, os 250€/mês começaram a pesar na carteira. Acabei por mudar para uma escola mais baratinha apenas a frequentar uma aula por semana. E lá continuo. Até hoje. Aliás, até Julho!

Voltando um pouco atrás, dois meses depois de ter chegado à Alemanha, conheci a K. com quem comecei a fazer "Tandem". Tandem, como já vos expliquei aqui é uma forma que duas pessoas têm de trocar conhecimentos. No meu caso e no da K. os conhecimentos foram as línguas alemã e portuguesa, respectivamente. Ainda continuamos a encontrar-nos uma vez por semana para falarmos a tal horita "só em português" e de seguida a horita "só em alemão". Durante estes três anos de Tandem nasceu entre mim e a K. uma grande amizade. Podem não acreditar, mas nós ainda hoje fazemos Tandem!
Esta forma de aprender ajudou-nos bastante pois criou uma relação de confiança entre ambas. Sem stress e sem o medo de errar e sermos ridicularizadas :P (como pode acontecer quando se está em grupo) temos evoluido bastante. Não é para me gabar, mas a K. está a falar muuuuuito bem português. E ela estava no mesmo patamar que eu quando começámos (não esquecer que ela não vive em Portugal).

Neste momento observo a minha estante e conto quinze livros em alemão, entre os quais, dez encontram-se lidos. Como qualquer pessoa, comecei pelos livros para criança que são no total oito :P. No início da aprendizagem não há outra hipótese senão ler livros infantis. Porém, com o tempo começa-se a "querer mais". No meu último aniversário recebi um livro de uma professora de alemão, "Die Entdeckung der Currywurst", que já foi começado, mas rapidamente abandonado. Mas ainda não desisti! Tenho esperança de um dia recomeçar a sua leitura. Quanto a revistas, posso aconselhar esta.

Falar em alemão, mesmo quando se tem a oportunidade de falar em inglês, é importante. Obviamente que depende muito das situações. Por exemplo, quando se está longe de casa, da família e dos amigos, muitas vezes o que precisamos é de desabafar e é muito importante que o façamos numa língua em que temos a certeza que nos entendem. Ainda hoje quando converso com a minha melhor amiga alemã :D acontece "escorregarmos para o inglês", mesmo ela falando tão bem português como fala, e eu o alemão que falo.
Há palavras que descrevem sentimentos, sobre os quais quero contar logo, e que não podem esperar que encontre em alemão as palavras "mais parecidas" com aquilo que quero dizer. Imaginem: a lágrima ao canto do olho que deveria ser de tristeza por algo de mau que me aconteceu e que quero partilhar, transforma-se em lágrima de raiva e frustração porque ninguém está a perceber puto do que quero contar! (Puf...! Finalmente esses tempos já lá vão.)
Em situações destas, quero lá saber o português, quero lá saber do alemão. Quero é que ela entenda o que estou a sentir! E daí o uso do inglês.

Ah! "The last but not the least": abrir o círculo de amigos a todos, que no caso de se viver na Alemanha, convém que inclua alemães :). Pode ser tendencial que um emigrante acabe por se rodear apenas por aqueles que falam a sua língua materna, com quem se sente à vontade, portanto. Óbvio. Para mim é claro o porquê deste comportamento. A língua é uma ferramenta que quem não a tem não pode usar para se exprimir, para conversar (como já falei aqui). No meu/nosso caso, a vida foi sempre preenchida com amigos de todos os cantos do mundo. Sempre fomos assim e acho que nada mudará esta nossa maneira de ser que na verdade só nos tem trazido alegria. Nem que seja a alegria de partilhar a vida nas diferentes perspectivas dadas por essas pessoas.

Posso concluir que até me tenho esforçado bastante para aprender e continuar a comunicar em alemão. Estou tranquila comigo mesma em relação a este assunto. Claro que existem 1001 maneiras de aprender uma língua. Eu procurei as que senti adequarem-se mais a mim. Tem sido 3 anos de aprendizagem constante. Não tem sido fácil, mas o que eu obtive (e ainda vou obter) dessa ferramenta (o conhecimento da língua alemã) permitiu-me passar por várias portas. Fossem elas a nível profissional ou pessoal.

Se dá trabalho aprender uma nova língua? A mim deu. Se dá gozo? Houve alturas em que sim e outras em que não.
Se valeu e vale a pena? :) Esta é fácil: SIM.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O despedimento


Criei este blogue para servir aqueles que pensam em emigrar para a Alemanha. Para dar a conhecer um pouco mais como as coisas funcionam tomando como base a minha experiência pessoal. Esse continua a ser o meu objectivo e com este post pretendo falar sobre despedimento :)

Já foi há algum tempo, exactamente três meses, que fui despedida.
A sensação de ter "dar tempo à casa" não era nova para mim. Porém, desta vez, não fui eu que escolhi sair da empresa. O ter de continuar a trabalhar na empresa mesmo depois de ter sido despedida foi o que mais me custou. É uma mistura de quero ver-me livre disto o mais rapidamente possível! com um e não posso pois tenho de aqui ficar mais um mês!.

A crise não está só em Portugal :) nem nos PIGS (continuo a achar que se deveria considerar PIGUKS...). Por aqui as coisas não andam famosas. Desde que saí da empresa já foram "dispensados" mais cinco. Mas, como eu sempre disse, as empresas não podem parar, mesmo em tempo de crise, e haverá sempre quem esteja à procura de pessoal para trabalhar. E falo de empresas que fazem girar a economia mundial :) E é por isso que, mesmo tendo sido despedida em tempo de crise, sei que em breve tornarei a ter emprego.

Foi assim:
1. Tive uma reunião com o meu chefe onde me foi informado de que iria ser dispensada. Tive de assinar nessa mesma reunião um documento em que dizia que eu tinha sido informada. Fui informada com seis semanas de antecedência;
2. A rescisão de contrato / o novo contrato (de 5 semanas) pôde ser lida com calma em casa, antes de eu a assinar. Deu-me a oportunidade de verificar se constava algo com o qual não concordava. Estava tudo OK;
3. Como tinha contrato até 2011, tive direito a uma indemnização, que no meu caso constou aprox. de um salário líquido (este é um valor normal mínimo aplicado hoje em dia);
4. Tive direito a carta de recomendação (aliás, a empresa é obrigada a fornecer essa carta).

Ponto 1. e 3., rescisão de contrato: desengane-se aquele que pensa que a existência de um contrato o protege de uma situação de despedimento. Se não houver trabalho para o trabalhador desempenhar na empresa, a empresa tem mais do que justificada a sua decisão :) Mesmo na Alemanha.

Ponto 4., a Carta: esta ao ser escrita rege-se por uma série de regras que codificam, no próprio texto, o desempenho do trabalhador na empresa. Cada frase significa uma avaliação num aspecto qualquer do trabalho desenvolvido pelo trabalhador. Por exemplo, tem de constar no fim do texto algo como "temos muita pena por perdermos uma trabalhadora como a Ana. Agradecemos à Ana o bom trabalho desenvolvido na nossa empresa, e desejamos-lhe toda a felicidade e êxito tanto na sua vida profissional como particular". Se esta frase não aparecer numa carta de recomendação significa que o trabalhador não é recomendado :) Aqui, p.ex., encontram-se as regras.


p.s.1: Se saíres da empresa, sai de forma a deixar a "porta entreaberta". Nunca se sabe quando te irás cruzar novamente com a empresa que te despediu ou até mesmo com os colegas com quem trabalhaste. Sair "a bem" é meio caminho andado para encontrares um novo trabalho, pois TUDO SE SABE. Não esquecer das redes sociais existentes na internet. Antigamente verificava-se a informação com um telefonema. Hoje em dia vai-se à internet e TUDO se encontra. Para não falar de que a Europa e até mesmo o mundo encolheram de uma maneira assustadora. Ou melhor, hoje em dia (como diria Thomas Friedman) "The world is flat" ;)

p.s.2: É preciso estar de olho aberto e identificar à nossa volta as oportunidades. Elas estão lá para as agarrarmos. Basta nós querermos! ;)

Imagem daqui.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mariza em Hamburgo


Pois é... Mais um concerto visto nesta cidade de uma artista portuguesa de quem eu tanto gosto. Tem uma presença no palco incrível e nem o vento frio cortante que se fazia sentir na Hafen City, onde decorreu o concerto, quebrou a emoção de quem assistia àquele concerto.
Aqui podem ver o casaco da Mariza que fez questão de tirar lá para a última música. Ah! E também conseguem ouvir o ventiiiiinho que fazia.
Mas há que dizer que os músicos também sofreram... Fez-me lembrar um concerto que demos em Borba, numa feira de vinhos, em cima de um palco no exterior. Ai os meus pobres dedos que nesse dia nem os sentia de tanto frio que fazia.

p.s.: em Portugal vi dezenas de bandas estrangeiras à custa da Queima das Fitas, Festival Sudoeste, Rock in Rio, Super Bock Super Rock. Na Alemanha, Hamburgo, encho a barriga de concertos de artistas portugueses, espanhóis e brasileiros.

Foto daqui.