domingo, 8 de março de 2009

Puxa pela pessoa e ela conseguirá fazer tudo!


Mas quem é que não se lembra da série infantil "Os Amigos do Gaspar"? Aqui fica a versão completa do nosso querido Sérgio Godinho.

O Outono por estas bandas já deu sinal de si... Há já um mês. Portanto, o corpo já apresenta sinais da readaptação à nova estação do ano: moleza, dores nos ossos (muita...:S Mas A semana habitual que costuma durar, já passou!), falta de apetite, e muita vontade de ficar em casa! À chuva já me habituei. A verdade, é que até já me atrevo a não levar chapéu de chuva sempre que o céu está carregadinho de nuvens, porque, como se costuma dizer: "Se não gostas do tempo de Hamburgo, deixa passar 10 minutos!". Ok, se calhar lá para o mês de Novembro, terei de acartar diariamente o chapéu-de-chuva. Por enquanto, vou sabendo escapar-me a esse peso.
É uma luta com o nosso próprio corpo que chega a ser revoltante! É que se te deitas para uma soneca de 30 minutos, esquece! O teu corpo põe-se logo em piloto automático, e pensando que já é de noite (porque a luz lá fora é de um cinzento medonho), liga o turbo e corre depressa em direcção ao Vale dos Lençóis! E levantar depois? E quais 30 minutos? Hoje, foram 2 horas, porque ME OBRIGUEI a levantar. É uma sensação muito estranha... O corpo fica pesadíssimo como se me dissesse: "Deixa-te de coisas! Vamos deixar-nos estar aqui no quentinho até amanha de manha!!!".

Os primeiros dias de Outono trouxeram mais uma vez a beleza dos mantos dourados de folhas caídas. Que maravilha de imagem para os nossos olhos!
Os esquilos habituais já se recolheram. Os coelhos ainda se conseguem ver, mas já não com a mesma frequência. A passarada já não canta. E o engraçado disto tudo é que a natureza não pára de nos surpreender! Até ontem tivemos uma praga cá em casa... Mais propriamente dito, no quarto. Adivinhem de quê? Joaninhas!!!! É verdade! Encontrámo-las todas ao monte num cantinho entre a janela e a parede. Pareciam que apenas dormiam aconchegadinhas umas às outras! Claro que nos passou pela cabeça que elas poderiam a meio da noite querer experimentar outros locais para dormir, como por exemplo, narizes e ouvidos... Mas quem é que é capaz de matar insectos como as Joaninhas...? Conclusão: deixámo-las estar, e não me perguntem como, desapareceram.

Há um ano atrás já tinha tido mês e meio das minhas primeiras aulas de alemão, tínhamos acabado de encontrar um cantinho para morar, e tudo era novidade. Um ano passou e quão depressa passou!

Neste momento estou a frequentar um curso de programas de Desenho Assistido por Computador que inclui AutoCAD, Allplan e Archicad. O curso é subsidiado na integra pelo estado alemão, e dá-me oportunidade de interagir com pessoas que apenas falam alemão (a ver se o meu alemao desenferruja de vez!). Começámos com AutoCAD 2007, e até me safei bem. Mesmo com teste SURPRESA TEÓRICO EM ALEMÃO a valer 50%... (Mas quem é que se lembra de fazer teste teórico a um programa de desenho???? Enfim...). Hoje começámos com Allplan que é um programa também de desenho, como AutoCAD, mas em certas coisas de funcionalidade bem mais simples (acesso a comandos, funções, etc..).
Sem ter aprendido alemão, nunca teria tido acesso a esta escola, a este curso. E assim, passo a passo, lá vou caminhando por um caminho que não tracei, mas cujo destino escolhi há um ano.
Se a primeira turma em que fiz parte aqui na Alemanha era constituída por emigrantes oriundos dos 4 cantos do mundo, que vieram para a Alemanha à procura de uma vida melhor e que enfrentavam diariamente problemas de integração social, esta por sua vez, apresenta-me uma imagem da Alemanha que eu ainda não conhecia. Falar a língua de um país estrangeiro dá-nos oportunidade de nos integrar melhor mas não nos dá a oportunidade para perceber como funciona em si, o país. Isso tens de perceber por ti.
Se na turma de alemão eu era das que tinha um grau de formação mais elevado (licenciada), neste também o devo ser! E passo a explicar: a maior parte dos meus colegas fez uma formação técnica, na área da engenharia, mas com uma duração de apenas 2 anos. Se eu em 5 anos era suposto ter aprendido a dominar Betão Armado, Estruturas Metálicas, Geotecnia, Hidráulica, etc.., estes meus colegas aprenderam em 2 anos a dominar apenas uma das matérias que eu referi.
Para mim, e se calhar por não ter tido a necessidade de estudar fora da cidade onde nasci, a Universidade foi uma continuação "natural" dos meus estudos. Aqui não é assim! Existem vários cursos possíveis em várias áreas, onde podes formar-te num determinado assunto, e entrar com alguma facilidade no mercado de trabalho. Em Portugal, para além das existentes quezílias entre Universidade e Politécnico, achamos que não há espaço para mais modalidades de formação superior. Agora entendo a frase: "Em Portugal, todos são doutores!". É que somos mesmo!
E explicar aqui, na Alemanha, qual é na verdade o nosso grau de formação? Não é fácil! Agora entendo porquê!! Se por aqui funciona assim, 2 anos para se formar numa área da Eng. Mecânica (outro ex.), como vou explicar que eu aprendi na Universidade a dominar um pouco de tudo? Às tantas, quem entrevista até fica desconfiado: "A menina diz que aprendeu a fazer de tudo, mas cá para mim não sabe é nada!".
Mas que somos bem formados em Portugal, ai isso é que somos!

Neste curso costumo sentar-me a meio da sala. Atrás de mim estão apenas 3 pessoas: os únicos homens do curso.
Rüdiger, deve ter os seus 45 anos, que numa altura da sua vida quando ainda era jovem, adoeceu, e adiou por completo os estudos. Entretanto vieram os filhos e a oportunidade de estudar só apareceu há uns 5 anos. Após 2 cursos técnicos (daqueles que vos falei) na área da Geologia e Engenharia Civil, frequentados ao mesmo tempo (coisa de que ele se orgulha imenso e compreendo-o bem: afinal, com criançada e já sem 18 aninhos, não deve ser fácil), aqui está ele, mais uma vez num curso de formação, com a mesma esperança que eu: entrar no mercado de trabalho alemão. Entretanto, durante todo o seu percurso, até encontrar um trabalho, recebeu e receberá, pela certa, ajuda financeira do estado. E aqui fica mais uma vez a pergunta: "Mas onde é que estes alemães vão buscar este dinheiro para financiar esta gente toda?"
Wolfgang, de 35 anos, já foi Encarregado de obra. Agora aprende a trabalhar com programas de CAD. Deste colega não me sai da cabeça: "Mas o que se passou para a vida dele mudar assim?"
Ali, a quem quase disse "Ah!!! Que giro! Como o Ali Babá e os 40 Ladrões!" (MAS NÃO DISSE!), vem do Iraque. Parece que é músico profissional. Tem corrido vários lugares do mundo a encher salas de espectáculos. Mas ao que parece, é em Hamburgo que quer ter a sua casa nos próximos tempos. Desta personagem é fácil perceber o que aconteceu: não é só em Portugal que "ser músico não paga as contas ao fim do mês", e após ter recorrido ao Instituto de Emprego, lá o encaminharam para o curso, tal como o fizeram a mim. No meu caso, tenho a certeza de que vai ser uma mais valia. Tal como para ele se se decidir a continuar na área da engenharia civil.
Este "grupo de 4" formou-se por circunstância de lugares na sala e pelo facto de nós apresentarmos dificuldades comparativamente ao restante grupo. "A união faz a força"? Neste caso, não tenho dúvida! A minha dificuldade é a língua alemã; A de Rüdiger vem da idade; Wolfgang, o pouco contacto com computadores que teve; Ali, a língua alemã e a dificuldade em compreender um computador.
O engraçado é que estas personagens, que mergulharam nesta aventura de aprenderem há pouco tempo a trabalharem com o computador, e que agora apostaram tudo em aprender CAD, não tem ainda contas de E-mail... Hoje em dia quem é que não tem um correio electrónico...? E eu, que sou uma apologista do "puxa pela pessoa e ela conseguirá fazer tudo!", associado a "Não tens???? Não pode ser! Vamos criar já hoje uma conta para ti!", comecei a dar umas dicas de GMAIL. Bem... Agora, até o Chat já usam! :D

Mudando de assunto, queria partilhar com vocês uma coisa que me costuma acontecer, sempre que quero comprar um par de sapatos novos, aqui em Hamburgo... É que é de um azar...! ;) Quando pretendo adquirir uma nova vestimenta para os meus pés, tenho por hábito correr várias lojas. Nesta cidade não há limites para promoções, por isso, nunca se sabe o que se vai encontrar na próxima loja. Quando se experimenta o sapato que está no mostruário, ele já ali está há já algum tempo, acabando mesmo por ficar com cor e forma diferentes, para não falar das dezenas de pés que já entraram por ali a dentro. E por isso, costumo sempre pedir, quando me decido finalmente por um certo par de sapatos, se me podiam trocar o sapato já usado por um novo. Ao que os funcionários me respondem sempre: "Infelizmente esse é o último par de sapatos que temos nesse número...". Azar dos azares...!!! Já é a 3a vez que a minha escolha não tem substituição possível do sapato usado! ;) (claro que as indicações que os vendedores recebem do patrão devem ser a de não trocar o sapato, senão nunca o conseguirão despachar, certo?).
Enfim... Mas lá trouxe o par de botas (sim, neste caso foram botas), cuja bota direita era a usada pelos clientes. Mas não se nota muito. E aliás, como o par foi comprado com dinheiro que me devolveram do par que comprei no ano passado, menos mal! Aqui os sapatos tem normalmente 2 anos de garantia. Aliás, sempre que compramos algo, guardamos sempre os talões, não vá ser preciso daqui a uns tempos, como me aconteceu este ano. As botas que comprei no ano passado estoiraram num ano. Voltei à loja e devolveram-me o dinheiro, directamente para a conta bancária, usando o cartão tipo Multibanco. Se fosse em Portugal, já estou a imaginar o filme: "Ah...Não sei se vai ser possível devolver o dinheiro. Nem oferecer um par novo! As botas estão estragadas porque a menina usou mal a bota! Como é que costuma apoiar o pé?" :D Por aqui até dá prazer em investir em sapatos! Podem ser caros, mas tem garantia a sério!

Depois deste mail gigante, deixo-vos apenas com uma dica para leitura:
"Por que é que os homens nunca ouvem nada e as mulheres não sabem ler os mapas de estradas", de Allan e Barbara Pease.
Ao contrário do que se possa pensar, este livro baseia-se em diversos estudos realizados em várias universidades do mundo. Não é de um cliché que se retrata neste livro. Tem explicações muuuuuito interessantes. E ficam já a saber que o meu cérebro, embora se encontre na Zona de Equilíbrio, foge um pouco à classificação de cérebro feminino habitual. :D Calma...! Não esquecer que a minha formação foi em engenharia! O que quer dizer, que afinal até devo ter mesmo jeito para ser engenheira!!! :)
(quando acabar de ler explico melhor no blogue habitual)

(Não, a foto não é minha!)

Sem comentários:

Enviar um comentário