quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Aconteceu


Meus queridos amigos, aconteceu.

Lembram-se que eu e o R. estivemos a trabalhar numa revista alemã, chamada Der Feinschmecker. A tradução deste nome para o Português (origem da língua francesa) é "Gourmet". Hum...
Pois hoje foi a "Festinha de Natal" da revista, para a qual todos os "colaboradores" foram convidados. E claro que o R. e a Ana não poderiam faltar! Só de pensar na possibilidade de terem na mesa da festa uns pequenos "Gateaux", confirmámos logo no dia seguinte a recebermos o convite em casa.

Chegámos ao edifício da revista, e tudo parecia normal. O mesmo hall de entrada, o mesmo porteiro, o mesmo elevador. Entrando na zona de escritórios, já se apresentava outra paisagem: o Openspace que eu costumava atravessar até ao meu local de trabalho encontrava-se repleto de gente a beber e a comer; os gabinetes tinham-se transformado em pequenas cozinhas improvisadas; um grupo musical tocava no centro do Openspace "Black Magic Women"; uma fotógrafa passeava com a sua máquina disparando sobre algumas das "Tias" aqui do sítio, que por sua vez se passeavam com pequenos pratos com comida tamanho S colorida e cheia de formas e feitios; Ah! E lá estava o Paul, o nosso antigo chefe. Servia cerveja ao pessoal, num dos balcões improvisados quase à entrada do corredor.

À entrada fora-nos dada a ementa apresentada por 15 dos melhores restaurantes de Hamburgo. Para estes restaurantes é uma grande honra ser-se convidado para servir numa festa da maior revista de Gourmet da Alemanha. Desde o restaurante «"Seven Seas" im "Hotel Süllberg"», o «"Callas" im Hotel "Steigenberger"», o "Das Weisse Haus", etc.. E todos eles preparavam aqueles pratos imaculadamente limpos onde no centro se encontrava o tão desejado "presente" de comer e chorar por mais.

O cheirinho já não nos podia fazer mais pirraça do que a que tinha feito à entrada (enquanto entregávamos os casacos no Bengaleiro) e por isso passámos ao ataque à comida.

Primeiro provámos o "Niederrheinischer Blutwurstknödel auf Ärpel mit Schlaat und Schwerter": Uma pequena bola de morcela envolta com pequeninos cubinhos de pão ralados fritos (que dava uma textura crocante a cada trinca), colocada delicadamente sobre um creme/puré maravilhoso. Por cima um molho castanho adocicado.
Por mim, merece * * * * * .

Depois reparei nas pequeninas taças brancas (do tamanho da minha palma da mão em forma de concha) que deambulavam entre as pessoas, com uma fatia do que parecia bolo de chocolate com pedaços de maçã. Também acompanhado com um creme branco e outro castanho, tudo sobre uma pasta de laranja caramelizada. "Ia jurar que era chocolate!", pensei eu antes de colocar qualquer garfada à boca. Até que a M. me traduziu o que o senhor tinha explicado sobre o PRATO PRINCIPAL que recebi com tanto entusiasmo. O prato chamava-se então "Karamellisierte Entenleber mit Apfel-Espuma und Früchtebrot". Eh eh... "Enteleber"... Pois... :D Fígado! Não era fatia nenhuma de bolo de chocolate com pedaços de maçã, mas sim fatiado de fígado. Para mim, aquilo sabia a sobremesa. Se bem que a mistura de todos os componentes daquele prato sabia bem. Todos encaixavam uns com os outros. Mas eu acho que o que me fez deixar a meio foi a ideia de ser fígado e das partes brancas da suposta "fatia de bolo" serem pedaços de gordura.
Pela ousadia de fazer um prato principal doce (sim, porque para prato principal, fígado até que não cai mal!): * * * *

Em seguida veio a sobremesa do mesmo restaurante da "fatia de bolo de fígado": Um delicioso souflet de chocolate servido num copo de tamanho de um shot considerável. "Schokoladensoufflé mit Vanille und Mandarinenkompott". Delicioso! Afundar a colher naquela bola fofa de chocolate e reparar que o molho de baunilha e a compota de tangerina se encontravam a envolver tudo... E em breve eu levaria aquele pedacinho do céu à boca.
Nada a acrescentar: * * * * *

Num só pratinho branco conseguiram juntar várias cores (verde, branco, vermelho, e outras) e várias texturas bem como vários sabores (pois está claro!). Dois pedacinhos de peixe "tipo Sushi" = cru, um de atum envolvido por umas sementes e salmão "ligeiramente fumado" com dois cogumelos do tamanho de dois alfinetes delicadamente atados com uma folhinha verde. A acompanhar mais um copo de shot com molho de abacate e outro de "Wasabi-Kaviar". Este foi na verdade o melhor preto principal que comi até hoje, de peixe, num prato com o diâmetro de 10 cm.
Se pudesse dava: * * * * * + *

Do mesmo restaurante chega-nos a melhor sobremesa com figo que comi em toda a minha vida. Reparem no nome "Gratinierte Feigen - Tarte mit Schokoladen-Sablé und Ingwer-Milchschaum_Eis". Eu traduzo: Figo (embebido em vinho do Porto, que não está escrito, mas que o cozinheiro nos disse) gratinado, sobre um bolinho tostadiço, com uma fina folha de chocolate a unir o figo e o gelado de gengibre. Bem... Fui aos céus e por lá fiquei durante o tempo que tinha o sabor na boca desta sobremesa (que não durou muito a ser invadido pelo prato seguinte).
Sem duvida: * * * * * + *

Já estão todos de água na boca, certo? Ok, ok, vou então terminar este texto com a minha investida às Ostras.

Eu já tinha provado uma vez Ostras, no rodízio de marisco em Cantanhede. E sinceramente aquela viscosidade toda não me entusiasmou nem um pouco. Lembro-me que experimentei uma e não voltei a comer desses bichos.
Quis tentar então, novamente, descobrir que segredos escondia para o meu paladar, uma ostra. Ao ver à minha frente um senhor, que eu sabia que trabalhava para um dos melhores restaurantes de Hamburgo, a abrir naquele momento as ostras, não resisti. Agarrei-me à primeira. O jeito não era muito mas lá consegui retirar o bicho viscoso com o meu garfo, espetá-lo e comê-lo. Eh eh Acho que comi umas 6 ou 7... Que maravilha de bichinho viscoso! E o sabor das gotas de limão no "sumo" da água do mar? É que "sabia a maresia" das praias de Portugal! Sei que pareço uma "emigra" a falar, mas o certo é que voltei a ir aos céus e por lá voltei a ficar uma boa meia hora! Só com medo de estragar o sabor da nossa terrinha!
E eram tantas ali à minha frente...: * * * * *

Depois de voltar a ler o menu da festa, cheguei à conclusão que só devo ter deixado escapar, dos 22 pratos e sobremesas, uns 2 ou 3. Entre eles umas salsichas.

Eu não sei se já vos tinha dito isto, mas... Eu gosto mesmo de comer. Saborear. E comer... E saborear... :D
Para os que ainda não tinham reparado, fica aqui a confirmação.
Mas não é preciso fazerem-me repetir o prato cada vez que for convidada a ir comer com um de vocês! Não sou uma "entope estômagos". Mas que há algo em mim que gostaria de ganhar a vida a fazer o que algum do pessoal da Der Feinschmecker faz, gostava! Já viram? Ser-se pago para comer coisas de grandes chefes de cozinha!

Ah!!!
Ainda não vos contei sobre a "Tômbola".
Sabíamos que haveria uma espécie de "rifas" que seriam vendidas por 5 euros, cada! A princípio pensámos à bom português: "Bolas, 5 euros é um almoço lá na terra!". Depois começámos a ver a lista dos 115 prémios que existiam para as ... 200 pessoas que se encontravam ali: relógio "Divina" do Maurice Lacroix com 40 diamantes; um fim-de-semana numa ilha caríssima no norte da Alemanha, Zylt, com tudo pago, incluindo 4 refeições em 4 restaurantes de luxo; e por aí fora.. E fez-se luz! 'Bora lá dar 10 euros! Duas rifas, 5 € cada...
Podemos dizer que já temos copos de vinho (a S. deve perceber o que vou escrever) «Beaujolais-Gläser von "Schott Zwiesel"». Feitos à mão, diz a etiqueta da caixa, 6 unidades. Afinal, parece que investimos bem os 10 € :D

Deixem-me só terminar dizendo que esta festa era só para o pessoal "colaborador", para que sentisse que a Der Feinschmecker ficara agradecida pelo nosso trabalho (e eu que pensei que bastavam pagar-me as horas que lá passei para a revista sentir-se "agradecida"). NÃO É BONITO...? E os próprios chefes lá se encontravam a servir cerveja, vinho, e outras bebidas.

A foto não é minha :)

2 comentários:

  1. eu também adoro saborear :D

    fiquei com água na boca...

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  2. Sophie, ficaste tu e fiquei eu! o que eu dava para ter mais um "jantarzito de Natal" como este.

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