Sou portuguesa. Nasci em Portugal, na ponta da Europa. E só sei o que é ter como fronteira, onde o sol nasce, um único país e do lado onde o mesmo se põe, um oceano. Viajar até um país no centro da Europa significa ter de passar pelo menos por uns 4 países.
Nunca vou falar perfeitamente alemão. Porque simplesmente a comunicação não é apenas a língua que se utiliza, mas também a cultura de um povo. E a cultura de um povo não é só a língua. Por muito bem que se fale uma língua (para além da língua-materna), há coisas que simplesmente nunca serão possíveis de entender, pois a base cultural é diferente.
Com isto, desistam de sonhar que um dia a Ana dirá as suas piadas em alemão para um grupo de 10 alemães (pois as minhas piadas só têm piada em português); desistam de sonhar que um dia a Ana saberá aplicar bem as declinações no acusativo, dativo e genitivo em alemão (opá, mas quem foi que se lembrou de declinar substantivos?); desistam de sonhar que um dia a Ana perceberá, sequer!, 70% das conversas em alemão; e finalmente desistam de sonhar que um dia gostarei de sopa com leite ou natas!!!!!!!
Agora, se me quiserem deixar, um pouquinho mais, ser como eu sou (da essência de que sou feita); se me quiserem cantarolar um pouco mais dos vossos dialectos que falam com a vossa família (sem medo de parecer mal!); se me quiserem dar a conhecer a vossa casa e o vosso gato; e finalmente se me quiserem dizer que as roupas coloridas que uso dão vida ao nosso espaço de trabalho, então, aí sim! Venha daí a sopa com leite e natas e queijo coalhado! Marcha tudo!!!
Uma terra sem imigrantes não tem piada nenhuma! São "as gentes de fora" quem dão mais vida a um país. Nada me dá mais vontade de sorrir do que ver um miúdo de origem africana, em plena carruagem do metro, a pular sedento de ritmo e movimento... Eles saltam, cantam, metem-se com as pessoas... Demais! Para mim, o dia parece outro! Iluminado...!
terça-feira, 28 de julho de 2009
domingo, 26 de julho de 2009
Já passaram dois anos...
Faz este mês dois anos que enchemos o carro e partimos para Hamburgo.
Foi um mês cheio de emoções e expectativas, festas de despedida, alguns preparativos, e principalmente cheio de muito carinho e respeito pela decisão que tomámos.
Não fazia ideia do que me esperava. Acho até que nem queria mesmo saber, pois temia que se o soubesse, desistiria a meio.
Lembro-me de dizer ao R.: "Será só por 2 anos...!"
Os dois anos já passaram (a correr) e nós por aqui andamos, ainda com tanto por ver, conhecer, viver! Dois anos de experiências únicas e intensas cheias de novos desafios e batalhas vencidas. Que nem por um segundo nos arrependemos.
E sai um VIVA aos desafios!!!
Meu Gil
Mais uma noite inesquecível na Fabrik. Gilberto veio até nós! E presenteou-nos com um concerto cheio de energia e canções de dançar e saltar. Não cantou esta (já houve concertos em que ousou dedilhá-la e essa era a minha esperança) mas não me importou nada! Gil trouxe na mala um conjunto de peças que eu ainda não conhecia mas nem por isso me inibiram de as dançar. Se bem que gostaria de ter podido usufruir desta e desta, cantadas ao vivo, pelo próprio!
Vem aí o Agosto!
Ao Domingo, aqui por terras de Hamburgo, há missa também em português. E depois da missa é hábito o pessoal encontrar-se numa das pastelarias perto da igreja. Por volta das 13h é vê-los a chegar: o senhor com fatinho domingueiro de calcinha preta vincada, a senhora com o seu conjunto cor-de-rosa e camisa aos folhos, a miúda com os seus sapatinhos de verniz e meia branca, etc..
Nós, eu e o R., também frequentamos essa pastelaria, num Domingo ou outro. Uns vão à missa... E eu vou mais cedo para marcar a mesa ;)
Há umas semanitas, por volta da uma menos vinte, já tinha eu chegado à pastelaria para cumprir a minha função. Sentei-me e a conversa da mesa em frente chamou-me a atenção. Três tugas de calcinha vincada conversavam entre si formando uma imagem algo familiar: pareciam que se tinham esquivado à missa para ter um dedo de conversa na pastelaria. Falavam sobre as férias de Verão deste ano. E era mais ou menos assim:
Tuga 1: -"E quando lá vamos, credo! É um exagero de comida! Vamos a casa deste e daquele, e em qualquer que seja a casa, lá está a mesa cheia de comida. Uii! É que podem até nem ter dinheiro, mas mesa cheia, não pode faltar!"
Tuga 2: -"Ohm! O meu primo diz que quando lá vai encontra-se sempre com mil e uma pessoas. Eu já não! Já não conheço lá ninguém..."
Tuga3: - "E depois é sempre uma chatice, porque nunca são férias! Na semana passada ligaram para saber quando é que lá apareciamos, que a altura das batatas já tinha chegado. Estão cá com uma sorte!"
Tuga 1: -"E depois é aquela casa que construímos. Enooorme. Para quê? Chegava-nos bem uma casa com dois quartos e um WC. A mulher passa as férias a limpar a casa. E eu a fazer outras coisas. E ela também gosta de limpar as coisitas à maneira dela. A casa tem 5 quartos, cada um com WC..."
Tuga 3: -"Para que é que construíste uma casa tão grande? Agora amanha-te!"
Tuga 1: -"Não estou arrependido, só digo é que se fosse hoje a construir... E depois, passam-se dois e três anos sem que se abra uma janela à casa!"
Sinceramente, pensei que já não existissem, mas que os há, há!
domingo, 12 de julho de 2009
Algo não bate certo...
Há qualquer coisa de muito errada no mundo. E há imagens que valem mesmo por 1000 palavras.
E há coisas que simplesmente não batem certo...
E já agora, porque entretanto tive conhecimento do trabalho realizado por Nuno Coelho, aqui fica o link para um dos seus interessantes trabalhos, que vem mesmo a calhar para este post.
E há coisas que simplesmente não batem certo...
E já agora, porque entretanto tive conhecimento do trabalho realizado por Nuno Coelho, aqui fica o link para um dos seus interessantes trabalhos, que vem mesmo a calhar para este post.
Festa no Bunker
Mais uma noite de sábado preenchida com festa. Mas desta vez, a festa foi num local... Diferente. Num bunker.
Com paredes de quase dois metros de espessura de betão armado, foi construído para fazer parte de um sistema de defesa anti-aéreo durante a Segunda Guerra Mundial (em triângulo, em cujos vértices estariam dois bunkers semelhante a este) sobre a cidade de Hamburgo. O betão com que foi construído foi desenvolvido durante essa época, um tipo de betão altamente resistente cuja "receita" nunca foi revelada a gerações vindouras...
A hipótese de o demolir, passou pela ideia de muitos, mas o custo dessa operação fez quase sempre desistir-se de tal projecto (*). E este, como muitos outros, acabou por ali permanecer até hoje.
Num dos bares nos seus espaços interiores possíveis para tal, realizou-se ontem uma festa latino-americana, com acesso ao terraço de onde se teve, sem sombra de dúvida, uma vista privilegiada sobre a cidade.
Para mim este bunker é como um fantasma que assombra uma das mais interessantes partes da cidade de Hamburgo (mas sem motins :) ), Sternschanze. Um fantasma tao grande que nem com os bares que lhe enfiaram dentro lhe conseguiram tirar esse estatuto. Podiam ter sido criados espaços interessantes ali mesmo, mas acho que ninguém teve coragem de o fazer: pegar no fantasma e devolvê-lo à cidade com nova cara, nova mensagem.
Existem vários bunkers pela cidade mas a maioria passa completamente despercebida (como o da estação central de comboios). Outros tornaram-se sítios especiais onde pessoas se reúnem para praticar escalada (por exemplo!) como aquele de que vos mostrei já neste blogue.
(*) E quem sabe se não será necessário no futuro...
p.s.: Mesmo tomando a decisão de os deitar a baixo, noutros bunkers em outras cidades, muitas vezes a operação falhou como na cidade de Berlim.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Black Box, de parabéns!
Portugal continua a dar o seu melhor, mesmo que seja por caminhos menos visíveis. Aqui fica o artigo na integra, escrito por Ana Rita Faria, sobre a empresa conimbricense, Black Box:
(para quem prefere ler on-line, procurar pelo Caderno P2 na barra da esquerda e ir até às páginas 6 e 7).
"A arte de mostrar o que ainda não existe"
08.07.2009, Ana Rita Faria
Escolhida no meio de 800 candidatos, a Black Box é a única empresa portuguesa nomeada para os prémios da visualização 3D na arquitectura. Hoje, sabe se fica entre os melhores
Tudo o que precisam é de computadores, de câmaras de filmar e de muitas, muitas fotografias. Por vezes um helicóptero também dá jeito, para obter imagens aéreas do local onde irá existir um empreendimento, um hotel de cinco estrelas ou até uma cidade inteira. E, talvez o mais fundamental de tudo, sensibilidade de arquitecto.
Formados em Arquitectura, os donos da Black Box criam imagens e filmes tridimensionais a partir de projectos tão diferentes como um Instituto de Comunicação Social para Angola, uma agência bancária para a Argélia, espaços públicos na Irlanda, uma cidade na Arábia Saudita, uma biblioteca em Barcelona ou uma torre de telecomunicações em Marrocos.
Mas foi a partir de Portugal, com o empreendimento turístico-residencial Douro 41 da Bascol e do Grupo Lágrimas que Miguel Miraldo, Joana Couto e Ricardo Silva conquistaram um lugar entre os cinco nomeados para os Architectural 3D Awards, na categoria de melhor imagem de arquitectura de interiores.
O trabalho sobre o empreedimento à beira do rio Douro tomou-lhes meio ano de trabalho, implicou várias visitas ao local e mais de 50 fotografias tiradas. Os quartos, salas e demais espaços do empreendimento foram mobilados ao gosto dos sócios. Os reflexos de luz nas imagens foram estudados ao pormenor e a vista das janelas para o exterior teve de reproduzir com exactidão os socalcos das margens do Douro, a vegetação e o rio.
O esforço recompensou e tornou a Black Box a única empresa portuguesa nomeada para o concurso que, desde 2004, premeia as melhores produções 3D na arquitectura a nível internacional.Organizado pela CGarchitect, revista online especializada na área, este prémio tem no júri representantes dos principais estúdios de visualização 3D mundiais.
A final realiza-se hoje em La Coruña, Espanha, e quer esta empresa de Coimbra ganhe ou não, "o mais importante é o reconhecimento internacional obtido com a nomeação", explica Joana Couto, de 32 anos. Tal como Miguel Miraldo, também de 32 anos, e Ricardo Silva, de 33, Joana Couto é formada em Arquitectura e cedo percebeu que tinha de encontrar uma alternativa profissional para fugir à saturação do seu mercado de trabalho.
Depois de passarem pelo gabinete de arquitectos como João Mendes Ribeiro e Jordi Badia, os três sócios (que foram colegas de escola no secundário, em Coimbra) decidiram lançar um projecto comum, a Black Box. Miguel e Joana foram os fundadores, em 2003, e Ricardo Silva juntou-se a eles um ano depois, como responsável pelo gabinete da empresa em Barcelona. Ao longo dos anos conquistaram clientes e projectos variados um pouco por todo o mundo.
Hoje, tanto podem fazer vídeos ou imagens de edifícios, empreendimentos ou outro tipo de espaços para imobiliárias e construtoras como recebem encomendas para produzir visualizações para gabinetes de arquitectos que estão a concorrer a um concurso de arquitectura. E, apesar de a crise ter posto um travão no mercado da construção, a Black Box tem-se mantido imune aos ventos desfavoráveis. "Como há quebra de vendas, também há necessidade de publicitar mais e o 3D é fundamental para isso", realça Joana Couto.
O primado da qualidade
Para os clientes da Black Box, a grande vantagem de recorrer ao trabalho da empresa é "começar a fazer publicidade e a vender um projecto antes de estar pronto, com base na imagem do que vai ser", explica a arquitecta. Por outro lado, a visualização 3D de um determinado espaço ajuda também a captar capitais para a própria construção, pois convence mais facilmente os investidores e permite fazer vendas antecipadas.
Além de construtores, imobiliárias e gabinetes de arquitectura, a Black Box já realizou também vários projectos para câmaras municipais. O último foi há dois meses, para a autarquia da Régua, e consistia num vídeo sobre um projecto de requalificação urbana. Mas este tipo de trabalho tem tido mais pedidos por parte do país vizinho. "Em Espanha, o poder local é muito forte e, se houver um projecto camarário que não tenha a aprovação da população, simplesmente não vai para a frente", conta Joana Couto.
Com quatro projectos em média por mês e uma facturação mensal de cerca de 15 mil euros, a equipa de seis pessoas da Black Box (quatro em Coimbra e duas em Barcelona) faz projectos para todos os bolsos, podendo ganhar 900 euros ou 20 a 30 mil num só trabalho. Contudo, Miguel e Joana admitem que os lucros poderiam ser bem maiores se fizessem um outro tipo de trabalho. "A maior parte das empresas da nossa área têm um produto-tipo para aplicar a todos os projectos, mas depois parece tudo igual, quer se trate de um hotel, de uma moradia ou um supermercado", destaca Miguel Miraldo.
Para os sócios da Black Box, o mercado, sobretudo ao nível dos gabinetes de arquitectura, exige um contributo que vai muito para além de pegar numa câmara, tirar umas fotos e modelar tudo no computador. "Estamos a mexer com o bebé dos arquitectos, o seu projecto, o que não é fácil, mas tentamos sempre interpretá-lo e dar um ou outro pormenor que revele o ambiente do espaço que vai nascer", explica Joana Couto. Um esforço que implica limitar a quantidade de trabalhos em agenda.
"Uma das coisas que distinguem a Black Box é não fazer muitos trabalhos, para tentar conseguir a maior qualidade possível em cada um deles", adianta.
O sonho adiado
Numa altura em que o recurso à tecnologia 3D na arquitectura é cada vez maior, a Black Box sabe que é na evolução constante que reside o segredo do sucesso. "Quando criámos a empresa, em 2003, houve um boom de empresas do ramo, mas agora começa a evoluir-se para outro tipo de tecnologias", afirma Miguel Miraldo.
O arquitecto prevê que, em breve, as empresas de visualização tridimensional comecem a recorrer aos óculos 3D, à semelhança do que tem acontecido no cinema, e que invistam nos ambientes de realidade virtual, tirados dos jogos de computador. Isso obrigará as empresas a criar espaços virtuais com os quais as pessoas possam interagir através de um ecrã de computador, abrindo e fechando portas, mudando os móveis de um apartamento ou as cores das paredes.
Paralelamente, a Black Box quer também aumentar o seu investimento no mercado da publicidade, onde tem já como clientes algumas empresas da indústria cerâmica, para as quais faz visualizações de produtos para catálogos. "O mercado de trabalho está a ir no sentido de uma crescente diversificação", realça Joana Couto. De fora parece ficar apenas o trabalho de arquitectura propriamente dito, embora os dois sócios reconheçam que sentem falta de exercer a profissão para que estudaram.
"Quando criámos a Black Box, a ideia era fazer 3D e arquitectura, mas acabámos por ter quase só trabalho de visualização", revela Miguel Miraldo. Os dois sócios reconhecem que o mercado de arquitectura continua "completamente saturado", além de estar a iniciar uma mudança profunda: a especialização. "Em Espanha, já há gabinetes de arquitectura que só trabalham na fase de projecto, outros que fazem controlo de obra e outros que executam, mas em Portugal os arquitectos ainda tentam controlar todo o processo", revela Joana Couto.
A vontade de voltar a assinar projectos mantém-se viva, mas a consciência de que essa actividade não pagaria um salário nem daria para viver transforma a arquitectura num sonho adiado para os donos da Black Box. Para já, interessa serem os melhores e verem isso reconhecido a nível internacional. Quem sabe, mais tarde, não se abram outras portas...
(para quem prefere ler on-line, procurar pelo Caderno P2 na barra da esquerda e ir até às páginas 6 e 7).
"A arte de mostrar o que ainda não existe"
08.07.2009, Ana Rita Faria
Escolhida no meio de 800 candidatos, a Black Box é a única empresa portuguesa nomeada para os prémios da visualização 3D na arquitectura. Hoje, sabe se fica entre os melhores
Tudo o que precisam é de computadores, de câmaras de filmar e de muitas, muitas fotografias. Por vezes um helicóptero também dá jeito, para obter imagens aéreas do local onde irá existir um empreendimento, um hotel de cinco estrelas ou até uma cidade inteira. E, talvez o mais fundamental de tudo, sensibilidade de arquitecto.
Formados em Arquitectura, os donos da Black Box criam imagens e filmes tridimensionais a partir de projectos tão diferentes como um Instituto de Comunicação Social para Angola, uma agência bancária para a Argélia, espaços públicos na Irlanda, uma cidade na Arábia Saudita, uma biblioteca em Barcelona ou uma torre de telecomunicações em Marrocos.
Mas foi a partir de Portugal, com o empreendimento turístico-residencial Douro 41 da Bascol e do Grupo Lágrimas que Miguel Miraldo, Joana Couto e Ricardo Silva conquistaram um lugar entre os cinco nomeados para os Architectural 3D Awards, na categoria de melhor imagem de arquitectura de interiores.
O trabalho sobre o empreedimento à beira do rio Douro tomou-lhes meio ano de trabalho, implicou várias visitas ao local e mais de 50 fotografias tiradas. Os quartos, salas e demais espaços do empreendimento foram mobilados ao gosto dos sócios. Os reflexos de luz nas imagens foram estudados ao pormenor e a vista das janelas para o exterior teve de reproduzir com exactidão os socalcos das margens do Douro, a vegetação e o rio.
O esforço recompensou e tornou a Black Box a única empresa portuguesa nomeada para o concurso que, desde 2004, premeia as melhores produções 3D na arquitectura a nível internacional.Organizado pela CGarchitect, revista online especializada na área, este prémio tem no júri representantes dos principais estúdios de visualização 3D mundiais.
A final realiza-se hoje em La Coruña, Espanha, e quer esta empresa de Coimbra ganhe ou não, "o mais importante é o reconhecimento internacional obtido com a nomeação", explica Joana Couto, de 32 anos. Tal como Miguel Miraldo, também de 32 anos, e Ricardo Silva, de 33, Joana Couto é formada em Arquitectura e cedo percebeu que tinha de encontrar uma alternativa profissional para fugir à saturação do seu mercado de trabalho.
Depois de passarem pelo gabinete de arquitectos como João Mendes Ribeiro e Jordi Badia, os três sócios (que foram colegas de escola no secundário, em Coimbra) decidiram lançar um projecto comum, a Black Box. Miguel e Joana foram os fundadores, em 2003, e Ricardo Silva juntou-se a eles um ano depois, como responsável pelo gabinete da empresa em Barcelona. Ao longo dos anos conquistaram clientes e projectos variados um pouco por todo o mundo.
Hoje, tanto podem fazer vídeos ou imagens de edifícios, empreendimentos ou outro tipo de espaços para imobiliárias e construtoras como recebem encomendas para produzir visualizações para gabinetes de arquitectos que estão a concorrer a um concurso de arquitectura. E, apesar de a crise ter posto um travão no mercado da construção, a Black Box tem-se mantido imune aos ventos desfavoráveis. "Como há quebra de vendas, também há necessidade de publicitar mais e o 3D é fundamental para isso", realça Joana Couto.
O primado da qualidade
Para os clientes da Black Box, a grande vantagem de recorrer ao trabalho da empresa é "começar a fazer publicidade e a vender um projecto antes de estar pronto, com base na imagem do que vai ser", explica a arquitecta. Por outro lado, a visualização 3D de um determinado espaço ajuda também a captar capitais para a própria construção, pois convence mais facilmente os investidores e permite fazer vendas antecipadas.
Além de construtores, imobiliárias e gabinetes de arquitectura, a Black Box já realizou também vários projectos para câmaras municipais. O último foi há dois meses, para a autarquia da Régua, e consistia num vídeo sobre um projecto de requalificação urbana. Mas este tipo de trabalho tem tido mais pedidos por parte do país vizinho. "Em Espanha, o poder local é muito forte e, se houver um projecto camarário que não tenha a aprovação da população, simplesmente não vai para a frente", conta Joana Couto.
Com quatro projectos em média por mês e uma facturação mensal de cerca de 15 mil euros, a equipa de seis pessoas da Black Box (quatro em Coimbra e duas em Barcelona) faz projectos para todos os bolsos, podendo ganhar 900 euros ou 20 a 30 mil num só trabalho. Contudo, Miguel e Joana admitem que os lucros poderiam ser bem maiores se fizessem um outro tipo de trabalho. "A maior parte das empresas da nossa área têm um produto-tipo para aplicar a todos os projectos, mas depois parece tudo igual, quer se trate de um hotel, de uma moradia ou um supermercado", destaca Miguel Miraldo.
Para os sócios da Black Box, o mercado, sobretudo ao nível dos gabinetes de arquitectura, exige um contributo que vai muito para além de pegar numa câmara, tirar umas fotos e modelar tudo no computador. "Estamos a mexer com o bebé dos arquitectos, o seu projecto, o que não é fácil, mas tentamos sempre interpretá-lo e dar um ou outro pormenor que revele o ambiente do espaço que vai nascer", explica Joana Couto. Um esforço que implica limitar a quantidade de trabalhos em agenda.
"Uma das coisas que distinguem a Black Box é não fazer muitos trabalhos, para tentar conseguir a maior qualidade possível em cada um deles", adianta.
O sonho adiado
Numa altura em que o recurso à tecnologia 3D na arquitectura é cada vez maior, a Black Box sabe que é na evolução constante que reside o segredo do sucesso. "Quando criámos a empresa, em 2003, houve um boom de empresas do ramo, mas agora começa a evoluir-se para outro tipo de tecnologias", afirma Miguel Miraldo.
O arquitecto prevê que, em breve, as empresas de visualização tridimensional comecem a recorrer aos óculos 3D, à semelhança do que tem acontecido no cinema, e que invistam nos ambientes de realidade virtual, tirados dos jogos de computador. Isso obrigará as empresas a criar espaços virtuais com os quais as pessoas possam interagir através de um ecrã de computador, abrindo e fechando portas, mudando os móveis de um apartamento ou as cores das paredes.
Paralelamente, a Black Box quer também aumentar o seu investimento no mercado da publicidade, onde tem já como clientes algumas empresas da indústria cerâmica, para as quais faz visualizações de produtos para catálogos. "O mercado de trabalho está a ir no sentido de uma crescente diversificação", realça Joana Couto. De fora parece ficar apenas o trabalho de arquitectura propriamente dito, embora os dois sócios reconheçam que sentem falta de exercer a profissão para que estudaram.
"Quando criámos a Black Box, a ideia era fazer 3D e arquitectura, mas acabámos por ter quase só trabalho de visualização", revela Miguel Miraldo. Os dois sócios reconhecem que o mercado de arquitectura continua "completamente saturado", além de estar a iniciar uma mudança profunda: a especialização. "Em Espanha, já há gabinetes de arquitectura que só trabalham na fase de projecto, outros que fazem controlo de obra e outros que executam, mas em Portugal os arquitectos ainda tentam controlar todo o processo", revela Joana Couto.
A vontade de voltar a assinar projectos mantém-se viva, mas a consciência de que essa actividade não pagaria um salário nem daria para viver transforma a arquitectura num sonho adiado para os donos da Black Box. Para já, interessa serem os melhores e verem isso reconhecido a nível internacional. Quem sabe, mais tarde, não se abram outras portas...
terça-feira, 7 de julho de 2009
Oh, se marchavam!
Ainda sobre os motins...
Reparem nas raparigas que dançam nas costas dos polícias ao som de Michael Jackson e no tipo que veio entregar uma pizza (min 2:50) em pleno espaço de confusão.
Opá... Se isto não é vontade de chatear o pessoal só por chatear, porque se quer apenas passar uma noite recheadinha de adrenalina, então o que é?
E foi assim em 2008, 2007, 2006 e por aí adiante...
p.s.: pareceu-me (pareceu-me!!) que no conjunto de fotos que estão no site do Hamburger Abendblatt que todos soltaram o seu sorrisinho, manifestantes e polícias, tal qual se de um jogo se tratasse. Pareceu-me...!
Foto daqui.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Mas não fui a única!
Pois, isto de ir a Portugal e trazer a mala cheia de comidinha boa, não é só para os emigras :P
No avião de regresso vim à janela, como faço sempre questão de pedir ao pessoal do check-in. Ao meu lado, mãe e filha, alemãs. Traziam revistas para devorarem durante a viagem e uma delas era sobre Lisboa. Trazia mapa e tudo! Oiço a filha dizer: "Ja... Stimmt! Larrgo do Quiado!". Foi como se me tivessem enfiado uma agulha de fazer croché no ouvido... Não aguentei, virei-me e disse-lhe em alemão ;) que não se pronunciava assim, mas sim "Chiado". "Para a próxima vez, quando andar perdida pelas ruas de Lisboa, já sabe perguntar pelo sítio certo!". Riram-se e ainda me pediram para confirmar se o som ch de Baixa se pronunciava da mesma maneira.
Vinham deliciadas com a cidade, claro.
Depois aterrarmos em Hamburgo, a mãe alemã que se encontrava na cadeira do corredor, começa a tirar a sua bagagem de mão: casaco, saco de papel, saco de plástico branco com uma caixa de bolos branca do mesmo tamanho da minha... "Elá!!! Aquilo é meu!". Mas não disse nada, pensando que a senhora daria pelo erro. Passados uns 5 minutos, depois de ela confirmar para si mesma (mas a custo) que era a caixa dela, decidi acusar-me como dona da maravilhosa caixa. A senhora ficou tão aflita, mas tão aflita de vergonha que, naquela agitação, para se explicar do equívoco, decide mostrar-me o porquê da sua confusão. Saca então de dentro do seu saco de papel, uma caixa branca de bolos (metade do tamanho da minha :D O que a idade faz...), DOIS queijinhos Palhais, uma lata de sardinhas em lata e mais não vi porque entretanto a filha já lhe tinha dado 3 cotoveladas e dito 2 vezes: "Oh mãe, mas tens de mostrar isso tudo??".
Aquela cena, para mim foi, divina! É que eu já me estava a imaginar na situação da rapariga a tentar que a mãe não mostrasse o "super-mercado todo" que tinha trazido de Portugal. E a mãe a insistir em mostrar, claro!
Achei uma ternura! Uma fila de pessoas à espera que a senhora decidisse arrumar as compras e eu: "Mostre, mostre! E o que comprou mais? Palhais? Muito boa escolha!..."
Há gente que não tem capacidade de apreciar os momento bons da vida, pois a cena teve de terminar quando alguém na fila fez aquele ar de enjoo, tipo: "é para hoje?"
No fim, nem tive oportunidade de lhes explicar onde podem comprar tudo aquilo em Hamburgo. Ok, pelo dobro do preço... E sem o gostinho de o trazer num saco de papel como recuerdo.
Lá seguiram as duas, 50 metros à minha frente, indo a filha a chamar a atenção à mãe como se de uma miúda da escola mal comportada se tratasse. Fez-me mesmo lembrar qualquer coisa :D
Foto daqui.
Os motins de 4 de Julho
Bom, os motins em Hamburgo, lá foram, mais um ano, em Sternschanze como manda a tradição. E como também manda a tradição, à tarde tudo estava calminho. :) Depois, o sol começou a pôr-se, algum pessoal (o mesmo de sempre) começou a munir-se dos acessórios que preparou durante a tarde bem passada com os amigos, à volta da cerveja e... Uma das zonas mais conhecidas e queridas da cidade de Hamburgo transformou-se num campo de batalha. Mas a essa hora, já os que tinham passeado por lá ainda o sol ia alto, ouvindo o som dos batuques de Capoeira, seguindo os cheiros de comidas dos 4 cantos do mundo, apreciando o artesanato de rua e vivendo toda aquela energia entre centenas de pessoas, descansavam nas suas casas. E depois ouvem-se as sirenes... Mas vão para longe!
Hamburgo é mesmo uma cidade especial :)
quinta-feira, 2 de julho de 2009
O padeiro ofendido
Já fui e já voltei. E de cada vez que volto trago "qualquer coisita" na mala: queijito, chouricito, bolitos, enfim... Desta vez trouxe um Pão-da-avó e uma caixa de bolos da pastelaria da rua da minha mãe.
É sempre um corrupio de experiências e aprendizagens que levo de cá para lá e vice-versa. Desta vez, tentei introduzir na referida pastelaria a seguinte frase: "Fica assim!" :) Esta frase não é novidade nenhuma em restaurantes portugueses. Agora, em padarias em que a conta é de 3,70€ e o cliente quer pagar 4€, já não é assim tão vulgar. Sei bem que 30 cêntimos é dinheiro. Com 30 cêntimos compra-se um pão para tapar o buraco de uma tarde sem lanche ou 2 pastilhas Gorila (ainda existem, certo?). Podem servir para quando queremos dar o valor certo a pagar (facilitando os trocos ao senhor da caixa) ou para uma próxima vez, evitar trocar a nota que temos no porta-moedas.
Pois bem, parece que ainda estou a ver o senhor com cara de parvo a olhar para mim: "Mas o que é que esta gaja quer?".
Há coisas que realmente tenho de parar de "tentar introduzir" de uma cultura para a outra. É que a cara do senhor, se bem me lembro, foi mais de: "Mas oiça lá, acha que preciso da sua esmola?! Olha esta agora! Sim, 30 cêntimos são uma fartura! Fique lá com isso que eu tenho mais do que fazer! Anda aqui uma pessoa a trabalhar para no fim, ainda sermos ofendidos por esta gente..."
Foi assim que me senti: que tinha ofendido alguém :)
Confesso que no início da minha estadia aqui na Alemanha, custou-me esta história da gorjeta. Então quando se deixava o equivalente a 6 bicas em Portugal... Ficava fula! Mas entretanto o hábito introduziu-se no nosso dia-a-dia e até nem me sinto mal de todo (e não, não tenho nenhuma plantação de notas no quintal lá de casa). Obviamente que maus serviços existem aqui, em Portugal ou na China :D E para esses não há nada para ninguém!
p.s.: foto daqui.
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