terça-feira, 28 de julho de 2009

O Grito da Gaivota II

Sou portuguesa. Nasci em Portugal, na ponta da Europa. E só sei o que é ter como fronteira, onde o sol nasce, um único país e do lado onde o mesmo se põe, um oceano. Viajar até um país no centro da Europa significa ter de passar pelo menos por uns 4 países.

Nunca vou falar perfeitamente alemão. Porque simplesmente a comunicação não é apenas a língua que se utiliza, mas também a cultura de um povo. E a cultura de um povo não é só a língua. Por muito bem que se fale uma língua (para além da língua-materna), há coisas que simplesmente nunca serão possíveis de entender, pois a base cultural é diferente.

Com isto, desistam de sonhar que um dia a Ana dirá as suas piadas em alemão para um grupo de 10 alemães (pois as minhas piadas só têm piada em português); desistam de sonhar que um dia a Ana saberá aplicar bem as declinações no acusativo, dativo e genitivo em alemão (opá, mas quem foi que se lembrou de declinar substantivos?); desistam de sonhar que um dia a Ana perceberá, sequer!, 70% das conversas em alemão; e finalmente desistam de sonhar que um dia gostarei de sopa com leite ou natas!!!!!!!
Agora, se me quiserem deixar, um pouquinho mais, ser como eu sou (da essência de que sou feita); se me quiserem cantarolar um pouco mais dos vossos dialectos que falam com a vossa família (sem medo de parecer mal!); se me quiserem dar a conhecer a vossa casa e o vosso gato; e finalmente se me quiserem dizer que as roupas coloridas que uso dão vida ao nosso espaço de trabalho, então, aí sim! Venha daí a sopa com leite e natas e queijo coalhado! Marcha tudo!!!

Uma terra sem imigrantes não tem piada nenhuma! São "as gentes de fora" quem dão mais vida a um país. Nada me dá mais vontade de sorrir do que ver um miúdo de origem africana, em plena carruagem do metro, a pular sedento de ritmo e movimento... Eles saltam, cantam, metem-se com as pessoas... Demais! Para mim, o dia parece outro! Iluminado...!

6 comentários:

  1. Aninhas (posso tratar-te assim ?;)

    Quem gostar de ti que seja por ti, com as tuas dificuldades linguísticas incluídas. Quem é amigo ajuda, não julga.
    Não é só a língua que é nova para ti.
    Os costumes, leis, comida, formas de funcionamento, música,cinema,TV, impostos, sistema de saúde, é tudo para aprender de novo... e depois ainda é preciso descobrir os teus cantinhos... de compras, de comida, de relax,de leitura, seja o que fôr e construir novas rotinas.
    Tudo isso pressupõe muita energia e muita determinação.
    A tua herança e matriz portuguesas definem essa força, essa capacidade de desbravar...
    E quem gostar de nós, em vez de insistir que nós comamos sopa dessa forma (eu não consigo nem faço questão), esforça-se por arranjar algo que satisfaça ambas as partes ;)
    Nenhum país nos está a fazer favor algum.
    Quando trabalhas, descontas, procuras integrar-te, és boa vizinha, boa cidadã, és uma mais-valia para o país de acolhimento.
    Por isso, força e coragem :)

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  2. Aninhas ou como chama a mãe, Anitas!
    Obrigada pelas palavras. Mas foi só um "gritinho"... É que por vez é cansativo, isto de "andarmos para aqui". A maior parte dos nativos não faz ideia do que é ser-se imigrante. Em qualquer que seja o país! E sabes no que realmente penso, por vezes? Naqueles que o são em Portugal. Eu nunca tinha feito ideia das dificuldades que passa quando se é imigrante. E eu ainda vim parar à Alemanha: cursos de línguas e de formação pagos pelo Governo, assistência médica mais rápida (desengane-se quem pensar que é melhor (livra!!) e/ou mais barata (não é igual que em Portugal mas também não foge muito!).

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  3. Bom Dia :)Anitas ;)

    engraçado falares dos que emigram para Portugal...uma coisa que me irritava solenemente era algo que ouvia, e provavelmente ouviste muitas vezes também, que as pessoas de Leste vinham roubar trabalho aos portugueses...pois eu diria que eram os próprios portugueses a roubar aos conterrâneos, refiro-me aos empresários que não declaravam nem às Finanças, nem à Segurança Social, esses trabalhadores, vigarizando o Estado e a Sociedade (o famoso chico-espertismo) e tratando com indiferença e desprezo aquele que escolhe trabalhar e não ser marginal (muitas vezes desempenhando trabalhos que os tugas não querem). E eles atiram-se a tudo e sem condições porque não conhecem nem o país, nem a língua e precisam de comer como toda a gente. Sou a favor de cotas de emigração (de acordo com a situação do país), mas àqueles a quem é permitido entrar, que possam trabalhar em condições dignas e não sejam explorados.

    Podes contar mais sobre a saúde aí? esse "livra" deixou-me curiosa :) quiçá um novo post? :)
    Por aqui, acho que a medicina começa e acaba no Paracetamol ahahahh

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  4. post sobre cuidados médicos, aqui na Alemanha... hmm... vou tentar. Vai ser um daqueles testamentos que eu tanto gosto! :D

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  5. Esta língua é mesmo danada: die, der, das vezes 3 mais todo o tipo de declinacoes possíveis e gramática intragável. Olha, eles lá nos vao entendendo mesmo com erros.

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  6. Eh eh... Pois, que remédio! Opá... E eu que até me esforço...! Será esse o meu problema :D???

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